Com sucesso de público, o 21º Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida destaca as tendências na promoção da saúde dos trabalhadores
16 de outubro de 2023Promessas de transformações na promoção da saúde nos ambientes de trabalho encerraram as atividades do 21º CBQV
17 de outubro de 2023No 21º Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida, profissionais, gestores, pesquisadores e especialistas puderam discutir sobre os desafios e oportunidades da promoção do bem-estar nas organizações
Justificando o título de principal evento de saúde e qualidade de vida no trabalho da América Latina, o 21º Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida (CBQV) superou as expectativas. Com uma programação científica de alto nível, feira de exposição e de startups, o evento deixou as dependências do Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio-Libanês, na capital paulista, lotadas nos dias 19 e 20 de setembro.
Profissionais, gestores, pesquisadores e especialistas em promoção da saúde e bem-estar de organizações privadas, instituições públicas e do terceiro setor puderam discutir sobre os desafios, oportunidades e tendências para os próximos anos do “Estado da Arte da Qualidade de Vida no Trabalho: Tendências, Cultura e Sustentabilidade” – tema central do evento.
Na abertura, Rita Laert Passos, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), realizadora do CBQV, destacou que a sustentabilidade humana e ambiental são desafios a serem superados pela responsabilidade de garantir o presente e o futuro da humanidade em busca pela igualdade, com a promoção da saúde e do bem-estar a partir de soluções inovadoras.
“Junto podemos fazer a diferença, reescrever a narrativa no local de trabalho, para modificar e tornar os ambientes de trabalho mais saudáveis e felizes”, afirmou.
Acompanhe o resumo da programação científica do primeiro dia do 21º CBQV.
Desafio da cocriação de culturas saudáveis
Judd Allen, PhD em Psicologia Comunitária e presidente do Human Resources Institute, abriu a programação científica do Congresso da ABQV. Ele explicou que desde a pandemia de Covid-19, com os novos modelos de trabalho, aumentou a conscientização sobre o impacto na saúde de subculturas importantes, como família e amigos.
Contudo, afirmou que o local de trabalho não pode mais ser o epicentro dos esforços para abordar culturas saudáveis, que é preciso apoio nos ambientes corporativos, em casa e na comunidade também. Esta, por sua vez, precisa dar ênfase à saúde mental.
“Uma cultura resiliente que promove o bem-estar tem de ter pessoas totalmente engajadas e conectadas”, garantiu Allen.
Também chamou a atenção para os benefícios de ter o bem-estar emocional dos funcionário como prioridade máxima. Isso proporciona:
- aumento da produtividade;
- oferece oportunidades de assistência;
- fortalece o trabalho em equipe;
- melhora a imagem da organização;
- reduz os riscos à saúde;
- controla os custos de saúde; e
- recupera e acelera o retorno ao trabalho.
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Lições para a qualidade de vida
“Precisamos analisar de perto o que aconteceu durante a pandemia, qual o resultado que a crise sanitária global deixou e aprender com isso”, destacou Wolf Kirsten, cofundador do Global Centre for Healthy Workplaces e ex-presidente da International Association for Worksite Health Promotion (IAWHP).
Em sua conferência, o especialista compartilhou as melhores práticas de promoção à saúde de empresas do mundo. Reforçou que as corporações precisam levar a sério o desenho e a organização do trabalho e não apenas tentar tornar o funcionário mais resiliente. Isso inclui avaliar e gerir riscos psicossociais.
Investir na promoção da saúde, segundo Kirsten, ainda trará bem-estar e equilíbrio entre vida pessoal e profissional aos indivíduos, o que é o mais importante. Além disso, melhorará seu engajamento, satisfação e motivação.
“As empresas verão custos reduzidos com os cuidados de saúde, redução do absentismo e melhoria da produtividade, e mostrarão que são organizações solidárias e sustentáveis”, garantiu Kirsten.
Telessaúde e promoção da saúde
Segundo Chao Lung Wen, chefe da Disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTms), que abriu os trabalhos na tarde do primeiro dia do 21º CBQV, a promoção da saúde e da qualidade de vida do funcionário tem sido negligenciada há tempos.
Vista como algo secundário, a ausência de investimento no bem-estar está gerando um conjunto de doenças do trabalho e de situações muito complexas, de acordo com o professor, inclusive aumentando os indicadores de enfermidades.
Em sua conferência, Wen ainda apresentou o conceito de Sociedade 5.0, onde o desenvolvimento tecnológico esteja centrado no ser humano e na busca por soluções realmente valiosas para a vida das pessoas, em todo o mundo.
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Cultura e política de equidade como estratégia
Érika Mourão Trindade Dutra, gerente de Ação Cultural do SESC-SP; Ana Julia Novais, professora da ESPM; e Pida Lamin, diretora de Gestão de Pessoas e Cultura do Hospital Sírio-Libanês, comentaram na primeira mesa-redonda do evento que cultura epolítica de equidade podem ser estratégias para a promoção da saúde nas instituições.
As especialistas reforçaram que é preciso que as empresas olhem para a sociedade e invistam em:
- diversidade,
- inclusão; e
- equidade para que a realidade populacional esteja representada em seus colaboradores.
“Tratar dos conceitos de igualdade e equidade é, na verdade, discutir sobre o princípio da justiça. A diferença entre os termos pode ser sutil, entretanto, juntos constituem os pilares de uma sociedade justa e democrática”, destacou Ana Julia.
Pida reiterou dizendo que é papel do gestor garantir ao seu time acesso a serviços de qualidade, com equidade e em tempo adequado ao atendimento das necessidades de saúde, aprimorando a política de atenção básica e especializada.
Impactos positivos do ESG nas organizações
Sustentabilidade tem de fazer parte da estratégia para garantir perenidade, disse Sonia Consiglio, especialista em Sustentabilidade, que participou de mesa-redonda com Flávia Vianna, gerente do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), em que discutiu a estratégia ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança) e seus impactos para as organizações e o planeta.
A relação entre a agenda ESG e a reputação de empresas e líderes é direta. De acordo com Flávia, um caminho sem volta quando se trata de assegurar ativos estratégicos, sejam investimentos, talentos ou a preferência dos públicos. Por essa razão, Sônia afirmou que é importante conhecer como esses temas estão sendo priorizados frente a questões econômicas que estão batendo na porta das organizações.
“O ESG continuará sendo uma pauta importante, mesmo que sofra mudança de rumo ou de velocidade”, garantiu a especialista.
Medicina assistencial e saúde ocupacional reduzem absenteísmo
A medicina assistencial e a saúde ocupacional são interligadas, pois ambas visam proteger e promover a saúde dos trabalhadores. Por meio de:
- exames médicos;
- avaliações de risco;
- programas de prevenção; e
- educação é possível contribuir para a redução de acidentes de trabalho, doenças ocupacionais e para o aumento da qualidade de vida dos trabalhadores.
De acordo com Leonardo Piovesan, Head de Saúde Populacional e Atenção Primária do Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Marcos Cantero, especialista em Medicina do Trabalho; e Maria Cristina Nader, gerente sênior da Natura&Co para a América Latina, o cuidado assistencial 360° e a saúde ocupacional não apenas beneficiam os indivíduos, mas também trazem vantagens para as empresas. Trabalhadores saudáveis e seguros são mais produtivos, engajados e apresentam um menor índice de absenteísmo, disseram os especialistas nesta mesa-redonda.
Avaliação de resultados nas empresas
Funcionários podendo usufruir de seus maiores ativos: tempo e autonomia. Esses são os principais benefícios da promoção à saúde e da qualidade de vida, que motivaram o debate da mesa-redonda com Adriana Jardim Arias Pereira, gestora de Saúde Corporativa da Ultragaz, e Debora Yumi Lopes Fukino, médica coordenadora do Trabalho no Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês.
Elas pontuaram que, para as empresas, possuir ambientes saudáveis geram maior produtividade, engajamento e resultam em ganhos financeiros e sociais. Entretanto, o cenário atual da promoção de saúde e do bem-estar nos locais de trabalho no mundo vive um contexto paradoxal. Enquanto por um lado se percebe que em algumas instituições há um exagero em ofertar ações de atratividade, que se confundem com promoção à saúde, por outro, não se oferece o mínimo de segurança psicológica, organizacional e física.
“Não haverá empresa sustentável sem ações de saúde, principalmente no tocante a doenças subjetivas, como a saúde mental, que o diagnóstico é clínico e dinâmico”, previu Debora.
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Benefício sustentável e atenção à saúde mental
Como tornar o plano de saúde um benéfico sustentável para sua empresa foi o tema debatido por Felipe Lacerda, CEO da BeeCorp, e Gustavo Drago, CEO da Becare, no simpósio patrocinado da BeeCorp. Eles destacaram que os planos de saúde são o segundo maior custo das empresas e as doenças crônicas não transmissíveis respondem pelo custo de R$ 490 bilhões à economia brasileira. Por isso, em prevenção às doenças e promoção à saúde é fundamental, evidenciando que a cada R$ 1 investido nesse segmento pode gerar retornos de até quatro vezes o investimento.
“Para reverter este cenário todos devem agir agora. Principalmente mudar o mindset em prol da prevenção e não do tratamento, e a tecnologia pode ajudar a conhecer melhor o público, ter uma visão preditiva e mitigar gastos desnecessários”, esclareceu Lacerda.
Do mesmo modo, Rui Brandão, CEO Zenklub, destacou no simpósio patrocinado da Zenklub que os cuidados com a saúde mental trazem resultados aos negócios. Quem comprovou que isso é possível foi Rodrigo Fillus, Head Plano de Saúde, Segurança do Trabalho, Ergonomia e Saúde Corporativa na Volkswagen do Brasil. Ele explicou que oferecer ferramentas e soluções em saúde mental ajudam a garantir resultados e a qualidade de vida dos seus times.
“Os gestores precisam usar a criatividade, como os aplicativos, para dar apoio do início ao fim, para ressignificar e transformar o cuidado em saúde mental”, disse Fillus, concluindo que cuidar de maneira preventiva, evita gastos inesperados com consultas, exames, internações e tratamentos.
Novas possibilidades para o cuidado
A medicina está passando por uma revolução com a chegada da nuvem e da inteligência artificial (IA). Priscila Cruzatti, especialista em Saúde do Google Cloud, trouxe à luz essa temática durante sua conferência no 21º CBQV, que encerrou as atividades do primeiro dia do evento.
Ela comentou que essas tecnologias estão abrindo novas possibilidades para os cuidado da saúde. Ressaltou que a IA está sendo utilizada para desenvolver algoritmos e modelos preditivos que auxiliam os médicos no diagnóstico precoce de doenças. Além disso, com a capacidade de analisar grandes volumes de dados, as novas soluções em IA têm potencial de revolucionar o campo da saúde, proporcionando uma série de aplicações inovadoras, eficientes e precisas aos cuidados médicos.
“A conclusão é que o uso da IA pode ajudar sim a melhorar a qualidade de vida das pessoas. Além disso, o sistema de saúde também sai beneficiado, pois o monitoramento remoto pode ser uma alternativa mais eficiente, econômica e conveniente em comparação às visitas frequentes ao hospital”, salientou.
Fotos: Oh! Filmes