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A liderança feminina vem se consolidando nas últimas décadas como resultado da luta do movimento em prol da igualdade de direitos para homens e mulheres. O tema volta a ser destaque no mês dedicado à mulher e chama a atenção para as condições de trabalho, salários e tratamento realizados com equidade dentro das empresas.
Naturalmente, falar em liderança feminina também remete à ocupação de posições estratégicas por elas no mundo corporativo e, nesse ponto, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a desvantagem para a mulher ainda é grande: a quantidade de mulheres administradoras de empresas no mundo é quatro vezes menor que a de homens.
O cenário atual ainda valida que as mulheres, em comparação aos homens, precisam de um esforço maior para se posicionarem como líderes em diversas frentes, inclusive na gestão da saúde.
“Para chegarmos a esta posição, a dedicação deve ser redobrada a fim de firmar a nossa marca e chegarmos aos cargos em todas as áreas, incluindo a da saúde nas empresas. Ao contrário do que as pessoas percebem e imaginam, este tema ainda não reflete o equilíbrio e igualdade entre os gêneros que esperamos. Podemos considerar que isso acontece devido ao machismo estrutural vigente e que não desaparece de um dia para o outro”, explica a médica especialista em Saúde do Trabalho, Carolina Junqueira, que atua como gerente de Saúde e Bem-estar da Oracle do Brasil e é membro do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).
Ao longo do tempo, as atitudes e posturas das mulheres mudaram exponencialmente. A especialista comenta que a participação feminina, de forma efetiva, teve e está tendo maior destaque, tanto na vida pessoal como na profissional. O entendimento de que a igualdade é um valor e um fator crucial para que todos tenham os mesmos direitos e vozes ouvidas em todos os níveis, independentemente de ser homem ou mulher, fazendo a diferença com olhos na diversidade, começa a ser real.
“Vemos isso acontecer no mundo e sendo exposto em páginas de jornais, via internet, como, por exemplo, anúncios de mulheres ocupando cargos de alta gestão, inclusive como CEOs, CFOs e outros de relevância estratégica. Conquistas que passam a ser mais rotineiras e comprovam que a sociedade começa a agir e pensar de uma forma mais justa”, garante Carolina.
Desconstruir visões
Mas o que é preciso ser feito para que a mulher conquiste seu espaço à frente da gestão da saúde e de programas de qualidade de vida nas empresas?
Para Carolina, muitas vezes é preciso desconstruir visões e estereótipos, quebrar vieses inconscientes, antes mesmo de mostrar seus valores e potenciais como profissional.
“Eu diria que a conquista feminina à frente de programas de gestão de qualidade de vida, em certos momentos, nos leva a uma trilha mais longa ou com mais curvas do que um caminho em linha reta. É fato que os esforços são redobrados, demandam mais tempo, paciência, resiliência, dedicação e qualidade técnica sempre em sintonia”, afirma a médica.
A pandemia de Covid-19 trouxe circunstâncias diversas e complexas, as quais, muitas vezes, foram atribuídas exclusivamente às mulheres. As olhos de todos, elas estavam “confinadas” em suas casas, participando ativamente de reuniões de trabalho de forma remota, sem deixar de lado as suas dores e necessidades.
Carolina revela que esse foi o momento da humanização das relações e a conexão se deu a partir das ansiedades e inquietudes uns dos outros. A partir daí, o que impactava o dia a dia das mulheres começou a ser exposto com mais naturalidade, como:
- as jornadas excessivas;
- expectativas;
- exigências cotidianas; e
- as necessidades femininas surgiram como desafios claros para todos.
Esse foi mais um passo para mostrar que ser mulher não impede:
- a capacidade e a habilidade de gerenciar e administrar temas complexos;
- lidar com demandas especificas no trabalho; e, simultaneamente,
- entender os desafios e obstáculos diários.
Mercado de trabalho
Ações inclusivas estão ajudando a virar o jogo e construir um mercado de trabalho mais equilibrado, em que é possível aproveitar o potencial das trabalhadoras.
A conselheira da ABQV afirma que o papel das mulheres como líderes em programas de gestão e promoção à saúde traz inúmeros benefícios.
“Na maioria das vezes, somos encaradas como mais empáticas e sensíveis e com foco nas necessidades individuais ou coletivas. Isso nos ajuda a liderar times com um tom mais colaborativo e, na esteira de tudo isso, fortalecemos uma cultura organizacional mais inclusiva e diversa”, destaca Carolina, ressaltando que o resultado vem em forma de maior cuidado e atenção ao bem-estar dos colaboradores.
Além disso, a liderança feminina promove um ambiente ainda mais igualitário.
“Muitas pesquisas apontam que, nesse tipo de ambiente, a satisfação e a motivação dos colaboradores aumentam e contagiam. Por outro lado, é de extrema importância que as empresas tenham práticas voltadas à igualdade de gênero em todos os níveis, desde a contratação até os planos de carreira”, salienta a médica.
E são os muitos caminhos e possibilidades a fim de incentivar um ambiente de trabalho motivador não somente para as mulheres, mas para todos os colaboradores, com programas diretamente relacionados com a satisfação do trabalhador. Diversas empresas já estão colocando em prática ações nesse sentido. Entre elas, Carolina destaca que muitas organizações estão investindo em:
- flexibilização do trabalho, auxiliando os colaboradores a equilibrarem suas vidas pessoal e profissional;
- ampliação da licença-maternidade e paternidade, com ampliação de tempo;
- atividades ligadas ao bem-estar (saúde física e mental), como mindfulness, entre outras, que podem ajudar a reduzir o estresse e a melhorar a qualidade de vida.
A ABQV tem várias mulheres em sua diretoria, inclusive sua presidente, e no Conselho Deliberativo, que atuam na promoção da saúde nas organizações. Para a conselheira Carolina, a relevância feminina traz outro atributo importante com impacto na sociedade que é a promoção da qualidade de vida.
“A diversidade de gênero também pode trazer diferentes perspectivas e abordagens para a promoção da qualidade de vida, o que pode ajudar a ABQV a criar programas mais inovadores e adaptados à realidade. Isso pode ajudar a promover a equidade, igualdade de gênero e a diversidade em todos os setores da sociedade”, reforça médica.
Acesse as redes sociais da ABQV e veja a reflexão de diretores da ABQV a respeito das principais características femininas no ambiente de trabalho e fora dele.
Experiências
Meire Blumen, gerente de Saúde Corporativa da CCR S.A., empresa que obteve a maior pontuação geral do 25º Prêmio Nacional de Qualidade de Vida (PNQV) em 2022, conta que sua jornada para chegar à frente da gestão da promoção da saúde não foi fácil e que com coragem, dedicação e propósito conseguiu trilhar seu caminho, conquistando aprendizado, desenvolvimento e oportunidades.
“Conciliar carreira, estudo, maternidade e os demais papeis que exercemos no dia a dia é uma arte e requer rede de apoio, parceria e empatia. Busco praticar o que recomendo, manter coerência entre o discurso e a prática, pois é importante exalar o que acreditamos, seja no convívio familiar, social ou no trabalho, afinal somos o mesmo ser”, pontua Meire.
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Para superar os desafios de se manter com saúde no ambiente corporativo, a gerente da CCR recomenda buscar o autoconhecimento, pois é preciso identificar seus limites, fortalezas, saber que não se tem que dar conta de tudo, pois demonstrar vulnerabilidades não é sinal de fraqueza, pelo contrário, é um ato de coragem.
Opinião reiterada pela enfermeira do Trabalho Vera Lúcia Gonçalves do Nascimento, analista plena de Saúde da iFood.com – empresa em Processo de Certificação do PNQV –, que afirma que manter o corpo e mente são no ambiente corporativo é um desafio diário.
“É importante respeitar seus limites, saber o momento de acelerar, de frear e de descansar, implementando rituais de autocuidado na rotina diária. Tenho momentos de café, leituras, pausas, estudos ao longo do dia (ou sozinha ou em equipe), que ajudam a quebrar os momentos de tensão, além do acompanhamento psicológico regular. Atividade física tem me ajudado muito a descarregar as tensões diárias”, garante Vera.
Paula Woicik, assessora da Diretoria da Fundação Copel de Previdência e Assistência Social, também premiada pelo 25º PNQV, há 9 anos na empresa, onde atua na Governança Corporativa, comenta que ter uma visão ampla do negócio e a participação nas decisões aumentam a motivação na busca constante para proporcionar qualidade de vida e bem-estar aos empregados e seus familiares.
“Os desafios são constantes, no entanto, a capacidade de resiliência, sensibilidade feminina para tratar das adversidades possibilitam alcançar resultados mais assertivos. As mulheres possuem uma sobrecarga com as diversas frentes que administram no dia a dia. Além de planejamento e definição de prioridades, para alcançar este equilíbrio, quando se trata de saúde, considero que a prevenção é o melhor caminho e um ponto determinante no bem-estar físico e mental”, conclui.