Impactos na saúde e no bem-estar devido ao trabalho remoto durante a pandemia de Covid-19
20 de agosto de 2020Webinar – Equilíbrio entre vida e trabalho em home office prolongado
4 de setembro de 2020Comprometimento das lideranças e RH mais assertivo podem ajudar no processo de retomada para o novo normal
A pandemia provocada pelo novo coronavírus obrigou as pessoas a se manterem em isolamento social para o enfrentamento da doença. Da noite para o dia todos foram obrigados a mudar as formas de relacionamento e também de trabalho. Grande parte dos setores da economia teve que se adaptar ao trabalho remoto – sistema que os especialistas acreditam veio para ficar.
No entanto, o que no começo parecia a situação ideal: poder trabalhar de casa, sem pegar transporte e encontrar um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, com o passar do tempo, o outro lado do home office começou a aparecer para as milhões de pessoas que puderam desfrutar dessa alternativa durante a pandemia. “Ninguém imaginou que demoraria tanto. São cinco meses vivendo uma situação de incertezas, preocupação com a saúde e com as finanças, e o que pareceu conforto num primeiro momento, transformou-se para muitos em estresse tendo de trabalhar em casa e se dividir com as demais tarefas e ainda ser produtivo e cumprir as metas”, observou Rita de Cassia de Souza, diretora de Recursos Humanos da Everis, durante o webinar especial “Como fica a saúde e o bem-estar com a prática do home office?”, promovido, no dia 5 de agosto, pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).
Pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGVSaúde), entre junho e julho deste ano, em parceria com o Institute of Employment Studies (IES), do Reino Unido, e divulgada pela ABQV, mostra que sem condições adequadas para o trabalho remoto, o home office tem trazido impactos à saúde e ao bem-estar dos brasileiros.
A maioria dos respondentes (87,4%) começou a trabalhar remotamente devido à pandemia. Essa realidade trouxe desafios para o desempenho das funções laborais. Muitos profissionais têm relatado sintomas físicos mais frequentes que o habitual, como dores nas costas (58,2%) e de cabeça/enxaqueca (53,3%); perda de sono (55,6%). Apenas 15,9% dos trabalhadores disseram ter recebido suporte para o home office, 62,5% disseram que não têm conseguido se exercitar como faziam anteriormente, 46% têm trabalhado mais horas/dia e 35% continuaram trabalhando mesmo tendo ficado doente (veja matéria completa aqui).
“Essa mudança tem trazido repercussões para a saúde física e emocional das pessoas e exigirão ações efetivas dos gestores e das organizações. Caso contrário, as taxas de adoecimento aumentarão, com redução da produtividade pessoal e organizacional”, avaliou Alberto Ogata, diretor de Comunicação da ABQV e pesquisador associado da FGV Saúde, que apresentou os dados doa pesquisa no evento on-line.
Para o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Paulo Sardinha, que também participou do webinar, infelizmente, tanto as empresas quanto os colaboradores não sairão imunes dessa pandemia. Ele explica que o emocional das pessoas tem sido fortemente abalado pelo isolamento social, as incertezas do futuro, a pressão para alcançar resultados, as dificuldades do trabalho remoto, entre outros pontos. “A pandemia tem sido muito prejudicial a toda a sociedade e os trabalhadores têm sofrido grande parte desses impactos. Por isso, agir e minimizar esse cenário é também uma responsabilidade das empresas, pois cabe a elas fomentar a saúde, segurança e qualidade de vida das suas equipes.”, explicou.
Assim como a saúde precisa de tempo para ter uma vacina e um remédio que combata a Covid-19, Sardinha acredita que as ações para conduzir a retomada para o chamado novo normal, assim como as decisões na tomada de atitudes por parte das empresas também precisarão ter critérios para serem mais assertivas.
Para ele, as decisões relacionadas ao trabalho precisam ter cautela e comprometimento por parte dos contratantes, que precisarão repactuar os acordos com seus colaboradores para evitar conflitos, problemas jurídicos futuros e manter seus colaboradores produtivos. “As organizações terão de olhar para a saúde de cada colaborador, buscando cuidar da vida profissional e pessoal, pois precisam dos seus funcionários saudáveis para exercerem suas tarefas. Também cabe a elas o cuidado com seu bem-estar”, afirmou o presidente da ABRH.
A diretora de RH da Everis acredita que neste ponto a área de Recursos Humanos tem um papel fundamental, pois ao mesmo tempo que acompanha a transformação nas relações trabalhistas e sociais causada pela crise, cabe ao departamento estar próximo das transformações de mercado. “Em um cenário de crise, é preciso adaptar estratégias, formas diferentes de trabalhar ofertas e canais de comunicação. O RH precisa estar em sintonia com todos os acontecimentos presentes e as possibilidades futuras, antevendo impactos com ações para minimizar os ônus para a empresa e seus colaboradores”, destacou Rita.
Sardinha tem a mesma opinião e apontou que a gestão de pessoas tem de assumir o papel de protagonista com o RH olhando para a legislação e as boas práticas, entendo que nem sempre terá respostas para tudo. “No cenário de crise, o RH desempenha um papel relevante, pois tem as ferramentas para minimizar as perdas de capital humano da empresa, pensando também no bem-estar das pessoas. A pandemia é impactante e com a gestão de pessoas na retaguarda é possível ter os subsídios necessários sobre o que é possível e os impactos que decisões futuras podem causar.”
Neste contexto, o papel do gestor também merece destaque. Rita aponta que cabe à liderança observar e acompanhar sua equipe em home office e identificar onde estão os problemas e procurar, junto à organização, saná-los. Para ela, pode haver uma flexibilização entre o trabalho remoto e o presencial, como forma de preparar os colaboradores para o novo normal que se instaura.
Para o presidente da ABRH, a comunicação não violenta neste momento também pode ser muito eficaz assim como a empatia. Por meio do estabelecimentos de metas e expectativas, o que passa pela capacidade de gestão, é possível se elevar o nível do diálogo por meio de uma comunicação objetiva e eficaz sobre as questões que envolvem uma crise de saúde pública inesperada. “Os gestores devem olhar para as próprias competências emocionais para perceber os limites, ter resiliência. Saber qual é a inabilidade emocional que pode, lá na frente, causar uma falha, quais as competências que mais se conectam e o que melhor funciona para cada colaborar e para a equipe. Se não for assim, dificilmente esse gestor será um catalisador da mudança. Incentivar a harmonia e manter a satisfação são importantes e costumam ajudar muito no alcance de bons resultados”, concluiu.