19º Congresso Brasileiro de Qualidade Vida
30 de julho de 2020Webinar – Como fica a saúde e o bem-estar com a prática do home office?
21 de agosto de 2020Estudo da FGV, divulgado pela ABQV, traz que apenas 15,9% dos trabalhadores receberam suporte da empresa para o home office e 46% têm trabalhado mais horas/dia
Com a pandemia do novo coronavírus, muitos profissionais passaram a trabalhar de forma remota com o auxílio de tecnologia de informação e da internet. Sem condições adequadas de trabalho em suas casas, no entanto, o home office tem trazido impactos na saúde e no bem-estar dos brasileiros. É o que mostra a pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGVSaúde), em parceria com o Institute of Employment Studies (IES), do Reino Unido, e com o apoio técnico da Sharecare Brasil.
O estudo exploratório, que foi apresentado no webinar especial “Como fica a saúde e o bem-estar com a prática do home office?”, promovido pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), em 5 de agosto, com o apoio da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) e a Sharecare, foi realizado em junho e julho deste ano, com o objetivo obter informações mais detalhadas sobre o cenário vivenciado pelo trabalhador brasileiro que está em home office, como ele está lidando com a condição instaurada pela emergência em saúde pública e os reflexos da realização das atividades diárias à saúde e à qualidade vida do profissional. “Queremos saber como esta nova realidade está afetando empresas e seus colaboradores para auxiliar os gestores e também a sociedade na busca por soluções para minimizar os efeitos da pandemia à saúde e ao bem-estar dos trabalhadores”, explica Alberto Ogata, diretor de Comunicação da ABQV e pesquisador associado da FGV Saúde.
A pesquisa entrevistou 533 pessoas por meio de questionário eletrônico desenvolvido pelo instituto britânico. A maioria dos respondentes (87,4%) começou a trabalhar remotamente devido à pandemia.
Essa realidade trouxe desafios para o desempenho das funções laborais pelos trabalhadores. 47,7% relataram compartilhar o seu espaço de trabalho com outro adulto; 46% com filhos dependentes menores de 18 anos; e 21,2% cuidam de outro adulto ou parente idoso.
A maioria dos participantes do estudo eram mulheres (67,9%) e tinham uma idade média de 40 anos. Os principais sintomas físicos relatados pelos respondentes que se tornaram mais frequentes que o habitual são dores nas costas (58,2%), no pescoço (57,1%) e nos ombros (51,9%); perda de sono (55,6%); fadiga ocular (55%), dores de cabeça/enxaqueca (53,3%); sensação de fadiga (42,9%) e azia e/ou indigestão (34,6%).
Ogata lembra que as dores musculoesqueléticas são a principal causa de afastamento e incapacidade em trabalhadores no mundo todo e esse problema deve-se agravar devido à falta de ergonomia no trabalho remoto.
Isso é comprovado por outro dado da pesquisa. A área de saúde ocupacional nos locais de trabalho se responsabiliza pela escolha de mobiliário e realiza uma avaliação periódica individual e do ambiente para garantir as condições ideais para a execução das tarefas diárias dos colaboradores, como, por exemplo, a iluminação e exposição sonora. No entanto, no estudo 84,1% afirmaram que o empregador não realizou qualquer avaliação de saúde e segurança em sua estação de trabalho em ambiente doméstico e apenas 15,9% receberam algum tipo de suporte em termos de adaptação da sua casa para o trabalho por parte da organização.
A pesquisa incluiu o instrumento desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para avaliar o estado de saúde mental e bem-estar (estado de humor, vitalidade e interesse geral) das pessoas. De acordo com a OMS, pontuação menores que 13 (numa escala de 0 a 25) indicam baixos níveis de bem-estar e evidenciam necessidade de acompanhamento, pois podem indicar algum nível de depressão. Na amostra do Brasil, o escore médio foi de 13,67%, considerado de baixo bem-estar. “Estudos analisando a pontuação baixa desse índice de bem-estar e sintomas físicos mostram que problemas de origem musculoesqueléticos andam de mãos dadas com as questões emocionais: quem tem mais dor tem mais depressão e assim por diante”, alerta o diretor da ABQV.
Com relação aos sintomas emocionais, o estudo relata que houve frequência maior que o habitual em relação às preocupações com as questões financeiras da família (51,5%) e com a estabilidade no trabalho (47,4%); sensação de ansiedade com a saúde de um membro da família (47,7%) e de solidão e isolamento (22,6%).
Ogata destaca que as pessoas relataram uma dificuldade maior para gerenciar o tempo e dividir a vida pessoal da profissional. 62,5% disseram que não têm conseguido se exercitar como faziam anteriormente; 46% têm trabalhado mais horas e em horários irregulares; 35% continuaram trabalhando mesmo tendo ficado doente; e 48,6% informaram que frequentemente sentem estar sob muita pressão no trabalho. “Essa é uma discussão importante porque muitos dizem que as pessoas estão mais produtivas, mas não estão enxergando que essa alta produção deve-se ao medo de perder o emprego, por aumento da demanda porque muitas empresas tiveram que diminuir seu quadro de funcionários devido à crise e muitos estão se sentindo pressionados. Essa é a face menos glamurosa do home office e as pessoas não estão falando sobre isso”, ressalta.
A pesquisa alerta para que as empresas tomem medidas para melhorar as condições do teletrabalho. Caso contrário, as taxas de adoecimento tendem a aumentar. “Essa mudança trouxe repercussões para a saúde física e emocional das pessoas que exigirão ações efetivas pelos gestores das organizações. Caso contrário, as taxas de adoecimento aumentarão, com redução da produtividade pessoal e organizacional”, avalia Alberto Ogata.
Na próxima etapa do estudo, além de comparação com dados internacionais, os pesquisadores analisarão a associação dos sintomas físicos e emocionais relatados com a saúde mental dos trabalhadores.