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A qualidade de vida no trabalho é um dos pilares essenciais para o sucesso de uma empresa frente ao mercado. Para tanto, é preciso que o trabalhador seja ativo e empenhado para realizar bem suas tarefas e ter compromisso com a organização. A chave para que isso aconteça é o estabelecimento do equilíbrio saudável entre a vida pessoal e a profissional do funcionário.
Porém, ter equilíbrio saudável não implica necessariamente em trabalhar menos, mas, sim, atuar de forma mais eficaz, sem comprometer aspectos essenciais da vida pessoal, como tempo com a família, lazer e cuidados com a saúde.
Inclusive, para muitos profissionais têm sido uma prioridade equilibrar a vida profissional e a pessoal. No entanto, nem todas as companhias estão aderindo ao movimento de uma cultura mais flexível. Com isso, o ambiente de trabalho está impactando muitos trabalhadores, principalmente quando o assunto é saúde mental.
Segundo pesquisa realizada pelo Infojobs, HR Tech, com 2017 profissionais brasileiros, no último trimestre de 2023:
- 86% disseram que mudariam de emprego por saúde mental e mais satisfação no trabalho.
- 61% não se sentem satisfeitos ou felizes no trabalho.
- 76% já conheceu alguém que precisou se afastar das atividades de trabalho por razões psicológicas.
Portanto, é necessário que as organizações e os trabalhadores tenham entendimento do significado desse equilíbrio. O primeiro passo para isso é criar uma cultura organizacional que estimule os funcionários, permitindo-os alcançarem seu potencial máximo ao mesmo tempo que eles atingem os objetivos da empresa de maneira eficaz e sustentável.
Limites
Porém, segundo a diretora Administrativa e Financeira da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), Viviane Coelho Lourenço, quando a cultura organizacional valoriza a disponibilidade constante, pode ser difícil se estabelecer limites, o que trará consequências à saúde do trabalhador.
“A tecnologia, neste aspecto, desempenha um papel crucial, pois permite que as fronteiras entre o escritório e a casa se tornem fluidas. Além disso, a busca por ascensão profissional e o medo de parecerem menos comprometidos podem levar os profissionais a ultrapassar limites saudáveis. Aqui, é importante ressaltar que o indivíduo deve exercer sua autorresponsabilidade na definição de limites claros”, esclarece.
Aliás, nas últimas décadas, a inovação tecnológica transformou a natureza do trabalho, proporcionando maior flexibilidade, mas também contribuindo para a dificuldade em desconectar. A pandemia de Covid-19 acelerou a adoção do trabalho remoto, intensificando os desafios na definição de fronteiras.
Para a diretora, a importância da tecnologia é inegável para o desenvolvimento e atuação profissional, mas é necessário encontrar um equilíbrio saudável que favoreça a eficiência sem comprometer a saúde mental e física dos colaboradores. Nesse contexto, é crucial considerar a importância do ambiente psicossocial e da autorresponsabilidade na adaptação a essas mudanças.
O aumento da dificuldade em equilibrar vida pessoal e profissional pode ser atribuído a diversos fatores, não somente à crescente conectividade proporcionada pela tecnologia. Além disso, a pressão por produtividade e a competição acirrada no ambiente profissional podem levar as pessoas a dedicarem mais tempo ao trabalho, prejudicando o equilíbrio. Por isso, é fundamental reconhecer a importância do limite de cada indivíduo na busca por um equilíbrio saudável.
Valores e princípios
Para o médico cardiologista e do Trabalho e vice-presidente da ABQV, Eduardo Bahia Santiago, vida e trabalho recebem influência da sociedade, do meio ambiente e do ambiente social. O modo de viver pode ajudar até a prevenir uma futura doença. Mas isso requer conhecimento e escolhas pessoais voltadas para a preservação da saúde, harmonia com a vida pessoal, familiar e profissional, a partir de um conjunto de princípios e valores que sustentem uma vida longa, gregária e produtiva.
“Esses aspectos têm sido confrontados por um modo de viver autocentrado, fortemente direcionado ao consumo de bens cabíveis no mundo do desejo e não no da possibilidade e da razoabilidade. Ao se buscar consumir tudo que se deseja, ocorrem impactos sobre o necessário equilíbrio financeiro e a busca de recursos nem sempre disponíveis no trabalho. Produz-se ansiedade, frustração e adoecimento mental”, explica.
Segundo a psicológica e diretora de Certificação da ABQV, Sâmia Aguiar Brandão Simurro, a falta de equilíbrio na distribuição do tempo diário também pode comprometer seriamente a saúde física das pessoas, uma vez que elas deixam de adotar práticas de estilo de vida saudáveis, como:
- prática regular de exercícios;
- períodos adequados de descanso; e
- uma alimentação equilibrada, o que podem resultar em diversos problemas.
Além disso, o excesso de trabalho pode provocar um impacto negativo nas relações pessoais, tanto familiares quanto sociais, resultando no distanciamento desses vínculos e comprometendo da qualidade das interações pessoais.
“Por isso, é fundamental que as empresas reconheçam a importância de um equilíbrio saudável entre as esferas profissional e pessoal, pois pessoas saudáveis e equilibradas tendem a ser mais produtivas, motivadas e criativas no desempenho de suas funções”, garante.
Modelos de trabalho
Os novos modelos de trabalho, como o home office e o trabalho flexível (híbrido) para Viviane, têm impactos tanto positivos quanto negativos ao trabalhador. Por um lado, proporcionam maior autonomia e redução do tempo de deslocamento, contribuindo para a qualidade de vida. Por outro, a falta de limites claros pode levar a uma sobrecarga de trabalho e dificuldade em desligar.
Reduzir a carga horária semanal e implementar práticas como “Short Friday” (sexta-feira mais curta/meio expediente) podem ser estratégias eficazes. Essas medidas incentivam a eficiência e a concentração durante o tempo de trabalho, promovendo uma cultura que valoriza o equilíbrio.
“Contudo, é crucial garantir que a redução de horas não resulte em aumento da pressão sobre os colaboradores durante o tempo de trabalho. Aqui, a autorresponsabilidade dos indivíduos em gerir seu tempo de forma eficaz é fundamental”, afirma Viviane.
Opinião reiterada por Sâmia, que destaca ser fundamental reconhecer que o sucesso na implementação desses modelos de trabalho depende da capacidade de gestão e adaptação tanto por parte das organizações, como dos profissionais.
“As empresas precisam atuar na cultura organizacional para permitir uma certa flexibilidade a fim de respeitar os limites individuais de sua força de trabalho. Muitas vezes, isso exige uma maturidade na gestão e dos funcionários para ser possível essa mudança. Os programas de saúde e bem-estar destacam-se como uma estratégia fundamental, proporcionando alternativas para práticas saudáveis, físicas e emocionais”, pontua a psicóloga.
Também é importante estabelecer políticas e definições claras sobre os limites esperados para evitar o excesso de trabalho e incentivar o respeito ao tempo pessoal dos profissionais, visando não apenas evitar o esgotamento, mas também garantir a construção de um ambiente de trabalho sustentável e saudável, onde a produtividade e o bem-estar coexistem de maneira equilibrada.
Estratégia-chave
Para a psicóloga, a comunicação aberta é estratégia-chave para compreender as necessidades individuais dos colaboradores e encontrar soluções personalizadas.
“Transparência cria um ambiente de escuta e compreensão, possibilitando ajustes e adaptações que favoreçam o equilíbrio desejado”, garante Sâmia.
Viviane também defende que a tecnologia pode contribuir oferecendo ferramentas que facilitem a comunicação, promovam a flexibilidade e ajudem na gestão do tempo. No entanto, é fundamental que as organizações estejam atentas ao impacto psicossocial da inovação, adotando práticas que promovam a segurança psicológica e o bem-estar de seus colaboradores, considerando a visão holística do equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
“Mas há de se destacar que a política da empresa é de suma importância, gerando orientações e limites”, finaliza.