Qual a importância e como desenvolver inteligência emocional no trabalho?
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A busca por satisfação no ambiente corporativo ganhou destaque nos últimos anos. Assim, o conceito de felicidade no trabalho tornou-se um pilar fundamental para os profissionais que estão buscando rotinas mais saudáveis e a conciliação com a vida profissional.
Nesse cenário, as empresas também começaram a repensar sua cultura organizacional para atrair, engajar e reter os talentos. Com base em um posicionamento acolhedor e positivo, a partir de uma gestão humanizada.
Além disso, a felicidade no trabalho passou a ser também um indicador ligado à performance. Pois, quanto mais satisfeito, mais o profissional tende a se comprometer e entregar bons resultados.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Center for Positive Organizational Scholarship, da Universidade da Califórnia (EUA), colaboradores felizes são, em média:
- 31% mais produtivos;
- 3 vezes mais criativos;
- têm 37% mais de possibilidade de obter melhores resultados.
Já um estudo da Harvard Business Review revelou que colaboradores satisfeitos são 85% mais eficientes e 300% mais inovadores.
Dessa forma, além de ser um aspecto importante para os profissionais, as empresas também ganham ao promover a felicidade no trabalho.
Mas qual a definição de felicidade no trabalho?
A diretora de Educação e Conhecimento da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), Karla Costa Kurtz, especialista em Medicina do Trabalho, com Certificação Internacional Chief Happiness Officer (CHO) e “Facilitadora Felicidade Interna Bruta (FIB), explica que não há definição única para felicidade e que este conceito no trabalho tem vários construtos dependendo da abordagem.
“Um dos construtos mais estudados é o de satisfação no trabalho, definido como o estado emocional positivo, resultante da avaliação que cada pessoa faz da sua experiência no trabalho.”
Experiência do trabalhador
Tal afirmação traz um aspecto muito importante a ser considerado do ponto de vista das empresas. Torna-se necessário pensar na organização do trabalho, de modo a dispor de ambientes corporativos onde a experiência do trabalhador seja por ele avaliada de forma positiva.
Nesse sentido, para o profissional ser feliz implica considerá-lo como um ser integral, dentro e fora do ambiente organizacional, pois quem trabalha é o mesmo indivíduo que tem uma vida pessoal, familiar, comunitária e é impossível separar isso.
“O termo mais adequado a ser utilizado é felicidade de quem trabalha. Para ser feliz no trabalho há necessidade de um ambiente positivo onde se cultivem virtudes e valores fundamentais para o florescimento dos indivíduos, assim como o respeito e a liberdade de fazer escolhas alinhadas com significado e propósito”, explica a diretora.
Por que as empresas devem estar atentas à felicidade de seus funcionários?
Atualmente, o principal desafio para as organizações, segundo Karla, envolve a escalada de transtornos mentais e comportamentais, com o trabalho sendo um pano de fundo para o sofrimento psíquico nas empresas e, de fato, estarem adoecendo.
Desde a pandemia de Covid-19 houve um aumento de 20% nos afastamentos por auxílio-doença no Brasil em virtude de transtornos depressivos. No país, a incidência de depressão está acima da média mundial, enquanto nos EUA, o custo relativo ao estresse laboral chega a US$ 300 bilhões/ano. Tais fatos implicam em custos para as empresas. A previsão para 2030 é de que o custo mundial do adoecimento mental chegará a US$ 6 trilhões.
“Os números são alarmantes. Para, de fato, abordar as questões organizacionais que impactam a saúde mental dos funcionários e reduzir o adoecimento, há necessidade de revisitar os aspectos relativos ao bem-estar e à felicidade de quem trabalha”, ressalta a diretora.
Benefícios e vantagens
A implantação de programas voltados à promoção da felicidade de quem trabalha é benéfico tanto para os indivíduos quanto para as organizações.
Para os trabalhadores, esta iniciativa permite que o trabalho seja uma das fontes de prazer e realização, trazendo mais emoções de valência positiva e otimismo para a vida. Estudos científicos comprovam que pessoas mais felizes têm menores índices de adoecimento físico e mental.
Já para as empresas, os benefícios são inúmeros, principalmente, relacionados aos resultados de satisfação dos funcionários e clientes, com:
- menores custos diretos e indiretos relacionados ao adoecimento e afastamento do trabalho;
- melhora do clima organizacional; e
- melhora dos impactos sociais advindos do transbordamento da felicidade e do bem-estar para além dos muros da empresa.
“Um programa de felicidade influencia não somente a comunidade interna da organização, mas também impacta o entorno, funcionando como uma importante alavanca de mudança social”, ressalta a médica.
Contudo, os custos da infelicidade no ambiente corporativo são conhecidos. Em ambientes tóxicos, os trabalhadores são impactados pelo:
- sofrimento psíquico;
- adoecimento; e, consequente,
- afastamento do trabalho.
As empresas, por sua vez, além do impacto em custos, têm que lidar com:
- a dificuldade de retenção de talentos;
- queda na produtividade; e
- a perda da imagem frente a um mercado que valoriza as iniciativas alinhadas ao “S” da estratégia ESG (práticas ambientais, sociais e de governança).
Felicidade corporativa
As organizações podem desenvolver a felicidade corporativa por meio de iniciativas que as façam se tornar um lugar onde todos gostariam de estar porque se sentem bem, a partir de um programa estruturado e baseado em um construto de felicidade.
Segundo Karla, na estruturação do programa é extremamente importante ouvir todas as partes interessadas (lideranças e trabalhadores) para se definir o que faz sentido para as pessoas e para a organização.
A partir daí, as iniciativas devem contemplar as condições organizacionais do ambiente de trabalho que afetem positivamente a busca dos indivíduos pela felicidade, além de promover a educação dos trabalhadores por meio do desenvolvimento das habilidades cientificamente comprovadas para a felicidade, as denominadas “happiness skills” (atenção plena, gratidão, apreciação, generosidade, dentre outras).
Relação entre espiritualidade e felicidade
Há estudos dedicam-se à análise das relações entre a espiritualidade no trabalho e o bem-estar laboral. Atendo-se à dimensão da saúde mental e emocional associada à satisfação no trabalho, as evidências empíricas indicam que o sentimento de comunidade na equipe e as crenças espirituais se constituem em preditores positivos e significativos da felicidade corporativa.
O gerente de Saúde Ocupacional da Vale, Lucas Leite, revela que é importante separar a espiritualidade da religião e a prática da diversidade, da inclusão e do respeito a todas as origens, credos e crenças são essenciais.
“A nossa visão é abordar a temática de maneira educativa, dentro de conceitos como ética e valores, autoconhecimento, desenvolvimento pessoal, compaixão e perdão. A parti disso, é possível iniciar um letramento básico nas pessoas sobre qual é o nível de pertencimento que possuem consigo mesmas, com o local de trabalho e dentro da sociedade”, explica.
Para ele, entender seu lugar no universo e até a crença de um ser superior que dá essa sensação de que não se está sozinho no universo são fatores importantes. Dessa forma, a espiritualidade remete à consciência das potencialidades de cada indivíduo, com mais clareza a respeito do seu papel e do que ainda tem por fazer em prol de um mundo melhor para as atuais e as futuras gerações.
“O profissional que entende seu papel na sociedade, o caminho que quer traçar para sua vida vê sentido em estar empregado, é melhor trabalhador, mais produtivo e engajado”, afirma.
Isso é possível, segundo Leite, a partir de algumas iniciativas que na Vale chamam de facilitadores de bem-estar, que têm início a partir de um convite para todos, no começo do expediente, para a realização de algumas práticas integrativas, on-line ou presencial.
“Participa quem quer, é só curtir o momento e focar em práticas como ioga do riso, a atividade de alongamento, relaxamento, mindfulness, respiração profunda. Assim, o entendimento e a conexão que faço entre espiritualidade e felicidade está associada ao engajamento, baixo turnover, produtividade e saúde”, finaliza.