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As discussões sobre como as estratégias de promoção da saúde, as tecnologias e as lideranças são fundamentais para a qualidade de vida dos trabalhadores nortearam as discussões do segundo e último dia do 21º Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida (CBQV).
Promovido pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), o evento foi realizado nos dias 19 e 20 de setembro, no Instituto de Ensino e Pesquisa Sírio-Libanês, em São Paulo, e chegou ao fim com sucesso e promessas de transformações significativas nos ambientes de trabalho em todo o Brasil.
O congresso, focado nas tendências, cultura e sustentabilidade da saúde e da qualidade de vida nos ambientes corporativos, proporcionou uma visão abrangente e aprofundada sobre como as organizações podem melhorar o bem-estar de seus colaboradores e, consequentemente, a eficiência e a qualidade do trabalho realizado.
Confira o resumo da programação científica do último dia do 21º CBQV.
Bem-estar nas empresas também depende dos funcionários
A conferência internacional “Estratégia global para o bem-estar organizacional” abriu os trabalhos no segundo e último dia do Congresso da ABQV. João Pedro Estanqueiro, subdiretor da EDP (Energias de Portugal) foi enfático ao dizer que embora o trabalho remoto ofereça flexibilidade, ele pode confundir as fronteiras entre o trabalho e a vida pessoal e até alienar equipes que lutam para se adaptar ao trabalho assíncrono.
Explicou que as organizações devem enfrentar esses desafios criando diretrizes claras para o trabalho remoto, oferecendo apoio à saúde mental, promovendo conexões e eventos para combater o isolamento e realizar a inclusão. Acima de tudo, isso evidencia a importância internacional do bem-estar no ambiente laboral, abordando:
- o cenário de trabalho em evolução;
- as estratégias para promover o bem-estar em diversas culturas; e
- o papel da liderança na promoção de mudanças positivas.
“Priorizando o bem-estar dos trabalhadores, eles estarão preparados para o futuro, mesmo que seja desafiador. Temos que capacitar as pessoas para serem responsáveis pelo seu próprio bem-estar””, destacou Estanqueiro.
Para o especialista, a estratégia deve ser em cinco eixos:
- emocional;
- física;
- social;
- profissional; e
- financeiro.
“O bem-estar tem que ser visto de forma holística”, frisou Estanqueiro.
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Líder deve ouvir mais e dar o exemplo
A temática da quinta mesa-redonda do 21º CBQV abordou o papel da liderança na a saúde e o bem-estar na estratégia da organização. Chieko Aoki, CEO da Blue Tree Hotéis, afirmou que o “Livro dos Samurais” ensina que a linha segue a agulha. Ou seja, que para cada tecido há um tipo de agulha e de linha e que para liderar é preciso ouvir mais, dar o exemplo e criar laços.
“As pessoas gostam de se sentirem valorizadas. Todos querem ser visíveis”, afirmou.
Marly Vidal, diretora administrativa e de Pessoas do Grupo Sabin, disse que a cultura de bem-estar depende do engajamento dos profissionais.
“Para engajar as equipes nos projetos da empresa, ressaltamos que eles estão cuidando da própria saúde. Com todos envolvidos, é possível desenvolver cultura de bem-estar. Porém, não adianta realizar ações se não há preocupação com o clima organizacional”, ponderou Marly
Tecnologia é um caminho sem volta
No debate da mesa-redonda sobre o futuro do trabalhador e a tendências para o bem-estar, Christian Rocha, CEO e cofounder da Munai, disse que há mudanças significativas no ambiente de trabalho. Por isso, diminuir custos de hospitais e secretarias de Saúde e melhorar desfechos clínicos são essenciais.
“Inteligência artificial passou por grande aumento de desempenho. Até 2018 tinha dificuldade de tarefas complexas. Em 2020, começou uma generalização maior do algoritmo. E hoje há cultura de trabalho remoto. No entanto, tentando voltar ao formato híbrido houve perda de produtividade.”
Sheila Mittelstaedt, Leader of Strategic Accounts Brazil na Siemens Healthneers, disse que existe uma dicotomia da automação e da manutenção do trabalho das pessoas. Em 2013, a Universidade de Oxford analisou que em um período de dez anos, um número alarmante de posições de trabalho seria provavelmente substituída por máquinas. Nem tudo aconteceu, pois há necessidade de humanização.
Mas os empregadores estimam que 44% das habilidades dos trabalhadores serão alteradas nos próximos cinco anos. Já o Estudo Futuro do Trabalho 2023 mostra que 23% das ocupações devem se modificar até 2027. Por isso, habilidades cognitivas são cada vez mais valorizadas pelos empregadores”, afirmou.
Luciana Costa, conclui dizendo que as relações no trabalho deverão ser cada vez mais horizontais, menos departamentalizadas, porém mais empáticas.
Inovação auxilia na gestão integrada da saúde
A gestão integrada de saúde nas empresas é fundamental para promover o bem-estar dos funcionários, reduzir custos com cuidados médicos e aumentar a produtividade.
Flavio Tocci, diretor-adjunto do Departamento Científico da Associação Paulista de Medicina do Trabalho (APMT), explicou que o modelo digital transformou os processos, permitindo acessibilidade e um cuidado integral da saúde dos trabalhadores.
Atento a esse universo, Alexander Buarque, gerente médico do Trabalho da Abbott, ressaltou que no ambiente de trabalho contemporâneo, a gestão de saúde corporativa emerge como um pilar central na condução de uma empresa sustentável e produtiva. À medida que as organizações buscam alinhar seus objetivos de negócios, com o bem-estar de seus colaboradores, a saúde corporativa, que engloba aspectos físicos, mentais e emocionais, torna-se cada vez mais relevante.
Opinião reiterada por e André Lopes, coordenador de Saúde Bem-estar da Votorantim Cimentos, e Daniel Grecco, diretor da Unidade de Negócios e Gestão de Saúde Populacional do Hospital Sírio-Libanês. Para eles, um programa de sucesso deve engajar o público-alvo, prevenir de fato as doenças, fazer diagnósticos em tempo hábil para ocorrer o direcionamento ao tratamento mais adequado. Também pontuaram ser preciso aumentar a percepção de saúde dos participantes, gerar indicadores das diferentes etapas do programa para ser auditável e passível de melhorias.
“Além de possuir um custo que faça sentido e seja sustentável a longo prazo”, garantiu Lopes.
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Fatores de proteção para DCNTs
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) são condições de longa duração que resultam de combinação de fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e comportamentais. Algumas das mais comuns são doenças cardiovasculares, o diabetes, o câncer e a obesidade. Grande parte das suas ocorrências está relacionada com o acúmulo de hábitos de risco, como:
- consumo abusivo de álcool;
- consumo regular de bebidas açucaradas;
- tabagismo;
- má alimentação;
- falta de atividades físicas; e
- má higiene do sono.
Há inclusive uma relação bidirecional entre dores e pouca qualidade do sono: as dores reduzem a qualidade do sono, que estando ruim provoca dores.
Hanna Karen Antunes, professora associada da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explicou que os benefícios de uma boa noite de sono resultam na prevenção da obesidade, no combate à hipertensão, no fortalecimento da memória, no favorecimento do desempenho físico, no controle da diabetes, na diminuição de doenças cardiovasculares e melhora até mesmo o desempenho do trabalho.
Também estiveram no debate Bruno Gualano, docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e Patrícia Jaime, vice-diretora da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
Inteligência artificial somada à humana dá melhores resultados
A mesa-redonda a inteligência artificial (IA)e seus desafios para a liderança na área da saúde trouxe as reflexões e limites para o uso desta solução tecnológica.
“Hoje temos as inteligências humanas e artificial. A junção nos dá uma inteligência aumentada, oferece mais qualidade, eficiência e melhores decisões”, disse Vitor Muniz, diretor de Novos Negócios da Roche. Para ele, a máquina vai atuar até determinado limite e daquele ponto em diante dependerá de atuação humana.
Fábio Patrus, CEO da Thalamos, garantiu que não é mais “tendência de” quando o assunto em tecnologias na saúde. Inclusive, já há modelos preditivos para se saber qual será o paciente de alto custo, sistema de comunicação entre pacientes e cada equipe de apoio, além da IA para indicação medicamentosa, e muito mais.
“Tiramos tempo burocrático. Inteligência traz informação e daí tomamos a decisão”, garante Patrus.
Atenção à maternidade e ao bem-estar familiar
“As organizações devem cuidar do gestar da colaboradora e das famílias, oferecendo a cada uma delas o que elas mais precisam para estarem preparadas e desfrutarem dessa fase da melhor maneira possível”, afirmou Keila Cristiuma Cório, fundadora e consultora da Sempre Materna. A temática abordada foi que é preciso um novo olhar para a importância do bem-estar familiar para as organizações.
A empresária explicou que, dessa forma, as empresas estão pavimentando o caminho para um futuro em que a maternidade e a carreira não são serão opostas, mas forças complementares.
Stella Azulay, jornalista e educadora parental da Juntos Educação Parental, explicou que é preciso educar para mudar positivamente a visão das empresas sobre a vida das famílias, especialmente nas formas e modos em que se relacionam. Dessa forma, todos estarão contribuindo para a construir um mundo onde ser mãe e profissional é uma realidade alcançável e gratificante.
Fatores de riscos psicossociais impactam a saúde e a produtividade
A última mesa-redonda do 21º CBQV abordou O que são os fatores psicossociais, os impactos que eles trazem ao trabalho e como geri-los.
Carolina Guarçoni Lopes, gerente de Saúde e Segurança do Banco do Brasil, disse que os fatores de riscos psicossociais são elementos presentes no ambiente de trabalho que podem afetar a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores. Eles podem incluir altas demandas de trabalho, falta de controle sobre as tarefas, de apoio social, conflitos interpessoais, assédio moral, jornadas de trabalho prolongadas, entre outros.
Também afirmou que lidar com os fatores de riscos psicossociais nas empresas é fundamental para garantir um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
Rodrigo Vaz, auditor fiscal do Trabalho do Ministério do Trabalho, reforçou que quando eles são negligenciados, podem levar a consequências negativas tanto para os trabalhadores quanto para a organização, adoecimento de colaboradores e até perda de produtividade para as empresas.
Wellington Nogueira encerra o 21º CBQV
Com a conferência “Inteligência Lúdica”, Wellington Nogueira, ator, palhaço, empreendedor social e conector de experiências, engrandeceu o evento e encerrou a programação de forma divertida e celebrando o sucesso alcançado em mais esta edição.
Explicou que a inteligência lúdicaaguça a capacidade de enxergar e criar possibilidades onde elas parecem não existir. Além de usar e refinar a imaginação e a criatividade para a vida e o trabalho, desenvolvendo:
- Fluidez, agilidade física e mental;
- Cultura de criatividade e colaboração;
- Sociabilidade e saúde mental;
- Criatividade e novas formas de ensinar e aprender; e
- Traz flexibilidade e adaptação para cenários de mudanças constantes.
A cobertura do 21º Congresso Brasileiro de Qualidade de Vida será publicada no relatório, que será apresentado em breve, e trará os principais insights, as tendências e perspectivas apresentadas durante o evento pelo principais players e stakeholders nacionais e internacionais que a ABQV. Aguarde!
Confira também: Relatório do CBQV 2022
Fotos: Oh! Filmes