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19 de fevereiro de 2021Grupo liderado pela ABQV propõe ações efetivas de enfrentamento à doença
Com o intuito de orientar a prevenção, diagnosticar precocemente e promover o tratamento adequado, o grupo Coalizão de Saúde e Osteoporose, formado por gestores das áreas de saúde pública e privada e representantes de sociedades médicas e de pacientes, liderado pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), promoveu, no último dia 9, o seminário on-line “Os desafios da jornada do paciente com osteoporose no Brasil”.
A grande dificuldade encontrada pela área médica é que a osteoporose é uma condição silenciosa, assintomática, de difícil diagnóstico antes da ocorrência de fraturas e que afeta, de acordo com a Fundação Internacional da Osteoporose (IOF – International Osteoporosis Foundation), 200 milhões de pessoas no mundo, 10 milhões somente no Brasil. “Faltam recursos para o tratamento adequado e prevenção da doença; padronização nos diagnósticos; também é preciso melhorar a linha de cuidados para que a terapêutica seja mais efetiva; identificar a enfermidade na atenção primária; e que a intervenção ao paciente de alto risco seja imediata. Mesmo com a pandemia do novo coronavírus não podemos deixar de olhar para as doenças crônicas e o quanto elas afetam a condição e qualidade de vida das pessoas”, explicou Alberto Ogata, diretor da ABQV, na abertura do evento, que foi transmitido pelo canal no YouTube da Associação.
Ele lembrou que o grupo foi criado após uma audiência pública ordinária da Comissão dos Direitos da Pessoa Idosa na Câmara dos Deputados, em outubro 2019, em que ficou constatado que é preciso tornar a osteoporose uma prioridade nacional em saúde. “O foco é contribuir para a formulação tanto de políticas públicas como de linhas de cuidado baseadas em evidências científicas para avançar em ações realmente efetivas de enfrentamento à doença”, afirmou Ogata.
Para isso, o grupo definiu que produziria um material com informações e orientações objetivas sobre osteoporose para médicos, demais profissionais de saúde e gestores dos setores público e privado, algo inédito no Brasil. O manual brasileiro de osteoporose “Orientações práticas para os profissionais de saúde”, que está em fase de finalização, foi apresentado no seminário virtual e será um guia colaborativo e educativo de atualizações sobre as melhores práticas clínicas e de evidências científicas para auxiliar na tomada de decisões sobre a doença.
A publicação, que deve ser lançada até o fim de janeiro de 2021, em formato digital, está sendo organizado por Adriana Orcersi Pedro, médica ginecologista do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Perola Grinberg Plapler, diretora da Divisão de Medicina Física do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP); e Vera Szejnfeld, reumatologista e professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e visa oferecer ferramentas para que os profissionais de saúde possam fazer o rastreamento e identificação dos fatores de risco, o manejo e a prevenção primária e secundária para que, dessa forma, consiga-se mudar o panorama da osteoporose no Brasil num futuro breve.
“O objetivo do grupo Coalizão de Saúde e Osteoporose com este manual, que contou com a colaboração de vários especialistas , é que ele seja um guia completo, baseado nas evidências mundiais consagradas, mas dentro de um contexto nacional, para consulta rápida, que objetiva a abordagem multidisciplinar da doença para generalistas e especialistas, com ênfase na prevenção, diagnóstico e tratamento da osteoporose”, explicou Adriana Pedro, que reforçou que essa enfermidade é uma doença pediátrica com consequências geriátricas, por isso a prevenção deve começar na infância. “Temos muitas oportunidades para promover a saúde óssea e prevenir a osteoporose e suas consequências, que são as fraturas e suas fragilidades, nas diversas fases da vida, em todas as especialidades médicas e em qualquer nível de assistência à saúde.”
Perola Plapler lembrou que a osteoporose é uma doença frequente e grave, que a avança lentamente, muitas vezes sem sintomas. “Os ossos tornam-se porosos, frágeis, e podem partir-se como gravetos. O pesadelo assombra principalmente as mulheres que já passaram pela menopausa. Uma em cada quatro vai ter a doença e sofrer fraturas em decorrência dela. Em relação aos homens, um entre sete terá a enfermidade, que é mais incidente nos acima de 60 anos”, alertou.
A cada três segundos uma fratura por osteoporose acontece em algum lugar do mundo. Para cada mil brasileiros com mais de 50 anos, oito irão apresentar fratura por causa dessa doença.
Até 2030, a população brasileira entre 50 anos e 89 anos será de 69,7 milhões. O número de fratura em 2015 alcançou 373 mil. A estimativa é chegar a 608 mil fraturas em 2030, um aumento de 63%, se nada for feito.
“A osteoporose é pouco diagnosticada. Nosso objetivo é chamar a atenção para a necessidade de prevenção, tratamento e intervenção na doença, que apesar de muito frequente, é pouco lembrada e tratada. Queremos que mesmo os não especialistas saibam o que fazer quando atenderem um paciente com fratura”, explicou Pérola.
Vera Szejnfeld afirmou que a enfermidade é muito incapacitante, que faz as pessoas serem dependentes e pode levar a morte. “O diagnóstico preciso e a eficácia do tratamento são fundamentais para a redução no índice de pessoas incapacitadas pela osteoporose e só assim conseguiremos ajudá-las a ter mais qualidade de vida.”
Mais ações efetivas
Ben Hur Albergaria, professor de Epidemiologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e pesquisador principal do Centro de Pesquisa e Diagnóstico da Osteoporose do Espírito Santo (Cedoes), moderador do evento, disse o Brasil é um dos poucos países da América Latina que tem programas de saúde pública voltados à osteoporose, mas é preciso mais ações efetivas de enfretamento à doença, que deve ter aumento em sua incidência devido ao envelhecimento populacional. “A efetividade das ações tem de passar pela conscientização sobre o que é a doença e levar isso às secretarias municipais de saúde para que seja implementada uma política pública de enfretamento à osteoporose”, garantiu.
O deputado federal Denis Bezerra (PSB-CE), vice-presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa da Câmara dos Deputados, concordou com Albergaria e informou que a atualização das diretrizes de protocolos clínicos, já solicitada ao Ministério da Saúde (MS), é o primeiro passo para intensificar e ampliar o tratamento da osteoporose e para que “todos os pacientes que precisarem de atendimento tenham uma assistência de qualidade”.
Wendel Pimentel, consultor técnico da Coordenação Geral do Idoso do Ministério da Saúde, reforçou que são necessárias políticas mais atuantes de proteção ao idoso e à saúde do pacientes com essa enfermidade. “A longevidade saudável é um assunto prioritário e, para o MS, ações como as propostas pela Coalizão de Saúde e Osteoporose são relevantes e muito importantes para a formulação tanto de ações como de linhas de cuidados para quem tem a doença.”
A osteoporose traz impactos para o sistema de saúde, ressaltou Marcos Franco, representante do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), que inclui custos hospitalares, com medicamentos e reabilitação do paciente. Por isso, a realização de debates sobre o tema é tão importante para a sociedade. “Os custos assistenciais com a osteoporose e suas consequências (fraturas e refraturas) muitas vezes chegam a equiparar com o tratamento de alguns tumores. Levar essas informações aos gestores do sistema de saúde é imprescindível para a tomada de decisão por iniciativa em prol de políticas de enfrentamento à doença”, destacou.
A diretora de Comunicação da organização não governamental Crônicos do Dia a Dia (CDD), Bruna Rocha, também lembrou que o paciente precisa ser parte do processo de prevenção à enfermidade, bem como estar no centro do cuidado e ser bem informado sobre a patologia. “É importante estar junto à pessoa diagnosticada nas mais diversas fases da jornada da osteoporose para que ela não tenha dúvidas sobre seu tratamento e sua condição. Também é preciso que ela esteja bem informada, pois nas redes sociais há muita disseminação de tratamentos que podem prejudicar os pacientes. Levar informação de qualidade também é fundamental na prevenção da osteoporose e na promoção do cuidado”, concluiu.