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27 de abril de 2023Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho chama a atenção para os riscos psicossociais que afetam os trabalhadores e a importância da energia humana renovável para o futuro do trabalho
Em 28 de abril é celebrado o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho. A data foi instituída pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionadas à função laboral. Desde 2003, esse dia é destinado às ações para a conscientização das organizações e dos trabalhadores acerca dos riscos de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.
Falar sobre essa temática no mercado de trabalho brasileiro não é uma novidade, pois cabe ao empregador cuidar do bem-estar de seus colaboradores, oferecendo condições seguras e salubres para o desempenho de suas atividades profissionais. No entanto, os números sobre segurança e saúde no trabalho no país ainda trazem preocupação.
A cada 48 segundos um acidente de trabalho acontece no Brasil e a cada 4h e meia um trabalhador morre pelo mesmo motivo. Os dados são do Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho, desenvolvido, em 2022, pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela OIT.
O levantamento traz ainda que entre 2012 e 2021 foram registradas 22.954 mortes no mercado de trabalho formal do país. No ano passado, 2.538 mil trabalhadores foram a óbito. Os registros mostram que, enquanto no ano retrasado ocorreram 571,8 mil acidentes de trabalho, em 2022 o total foi de 612,9 mil, revelando um aumento de 7,2% no número de casos. Isso demonstra que a mortalidade no mercado de trabalho formal voltou a apresentar a maior taxa dos últimos dez anos, com sete notificações a cada 100 mil empregados, em média.
Esses números oficiais são alarmantes, mas não consideram os acidentes que são caracterizados e não são notificados e, por isso, o número real pode ser potencialmente maior
Atitudes preventivas
“Esse cenário urge uma resposta em promover melhorias com atitudes preventivas e em observância à legislação em saúde do trabalhador, em especial às normas regulamentadoras, que dispõem sobre medidas de prevenção a acidentes e doenças relacionadas ao trabalho”, explica Guilherme Augusto Murta, médico do Trabalho e associado da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).
Para ter atitudes preventivas deve-se inicialmente cumprir a exigência legal, segundo o médico. O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) e o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) são documentos que dizem respeitos aos riscos e medidas de controle no ambiente de trabalho e os procedimentos médicos indicados, respectivamente, e devem ser realizados com bastante critério.
Além do requisito legal, as organizações com as melhores práticas têm investido em ações relacionadas à qualidade de vida como forma de melhorar a saúde global dos trabalhadores, tendo reflexos positivos em:
- engajamento;
- redução de absenteísmo;
- redução de turnover;
- retenção de talentos; e
- produtividade.
Tendo em vista que acidentes de trabalho são potencialmente preveníveis, há um destaque na importância do Abril Verde – campanha para conscientizar empregadores e empregados sobre a importância dos ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis.
“A empresa com a cultura do cuidado integral ao trabalhador tem como fundamento que prevenção é o conceito-chave, seja para evitar acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, ou para evitar desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis”, aponta Murta, lembrando que os recursos para essas iniciativas devem ser cada vez mais entendidos como investimentos e não meramente como gastos.
“É preciso conscientizar que são realmente medidas que promovem um ambiente de trabalho seguro e saudável e garantem sustentabilidade para os negócios”, afirma o médico do Trabalho.
Promoção de bem-estar
E como as empresas devem atuar na prevenção de doenças e de acidentes e na promoção da saúde com os novos modelos de trabalho?
Implementando uma cultura de segurança e de saúde ocupacional para a promoção do bem-estar e da qualidade de vida em todos os níveis nos ambientes laborais, com empregadores e trabalhadores participando ativamente de um sistema de direitos e responsabilidades onde a maior prioridade seja a prevenção.
Também é bastante relevante que a empresa disponibilize aos empregados:
- informações sobre os riscos ergonômicos, seja no ambiente corporativo. ou no domicílio quando em trabalho remoto;
- treinamento e informações quanto ao mobiliário e posicionamento da cadeira, teclado, mouse e tela do computador; e
- orientação sobre alongamentos periódicos, que são relevantes para atenuação dos esforços estáticos
Em paralelo com a pandemia, houve ainda a elevação de doenças mentais. Há inúmeras abordagens sobre esse tema a ser empregadas conforme a realidade de cada empresa, considerando o diagnóstico situacional e aspectos da cultura da organização. Porém, Murta diz não haver uma única forma de trabalhar as questões sobre saúde mental, haja vista que as corporações têm realidades diversas e formas de abordagem personalizadas. As intervenções incluem:
- pesquisa de ambiente de trabalho;
- treinamentos;
- palestras;
- materiais de comunicação informativos;
- terapêutica;
- suporte a afastados e retornos ao trabalho;
Riscos psicossociais
A psicóloga Ana Carolina Peuker, diretora de Mercado e Expansão da ABQV, revela que nas questões da saúde mental é fundamental que as empresas ajam para intervir por meio da identificação, alívio e prevenção dos riscos psicossociais – fatores que podem contribuir ou causar estresse e adoecimento mental nos colaboradores. Para tanto, é necessário conhecimento técnico especializado para sensibilizar líderes e gestores e municiá-los com ferramentas para poderem identificar essas situações e gerir melhorias contínuas para resguardar a saúde dos colaboradores.
Segundo a OIT, o estresse ocupacional pode conduzir a comportamentos danosos, como uso de substâncias psicoativas, consumo abusivo de álcool, que, por sua vez, favorecem os distúrbios do sono e o excesso de peso.
Mas a responsabilidade pela saúde mental não pode recair apenas nos ombros dos trabalhadores. Segundo a Gallup, depois da crise pandêmica, 7 em cada 10 pessoas de todo o mundo estão lidando com problemas de saúde mental. Para Ana Carolina, essa a abordagem da crise de saúde humana precisa começar com a compreensão de como esses trabalhadores são afetados e de como é possível criar ambientes seguros e promover a saúde integral de cada colaborador.
“O futuro do trabalho vai depender da criação da energia humana renovável e vamos precisar reavaliar a cultura da empresa para desenvolver pessoas, reter talentos e não arriscar a escassez completa de recursos”, destaca a psicóloga.
O assunto é tão importante que “Riscos psicossociais relacionados ao trabalho” é o tema da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho – CANPAT 2023, da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério do Trabalho e Emprego, e que conta com o apoio da OIT, lançada no dia 27 de abril. O objetivo da ação é debater o tema que se tornou ainda mais urgente no período pós-pandemia, em que casos de adoecimentos mentais, como ansiedade e depressão aumentaram e afetaram não somente o trabalhador, mas também as famílias.
Ana Carolina vai participar no dia 28/4, a partir das 15h, da live “Riscos Psicossociais Associados ao Trabalho”, promovida pela Firjan SESI, com especialistas em Saúde e Segurança do Trabalho para discutir essa pauta tão atual no dia a dia das empresas. O debate on-line pode ser assistido ao vivo no link https://youtube.com/live/bZhpLxR95iI.