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A saúde financeira dos trabalhadores é um tema que vem ganhando destaque nos últimos anos e está sendo considerada uma das principais preocupações das empresas. Isso porque quando os trabalhadores enfrentam problemas financeiros, essa situação acaba afetando não só suas vidas pessoais, mas também a produtividade e desempenho no trabalho.
De fato, os problemas financeiros dos colaboradores são uma realidade que pode impactar significativamente também a retenção e o desempenho dos funcionários. Várias pesquisas comprovam os efeitos negativos que a falta de planejamento financeiro pode gerar.
Segundo a pesquisa on-line PwC’s 2023 Employee Financial Wellness Survey, realizada com 3.638 adultos norte-americanos empregados em tempo integral em uma variedade de setores da economia, em janeiro de 2023, revelou que os trabalhadores enfrentam cada vez mais dificuldades em manter as despesas básicas. Quarenta e nove por cento disseram ter dificuldade em pagar as despesas domésticas no prazo todos os meses. Entre os funcionários que possuem saldo de cartão de crédito, 44% disseram que têm dificuldade para fazer pagamentos mínimos em dia todos os meses (contra 37% no ano passado).
Do ponto de vista do bem-estar, o levantamento revela que o estresse financeiro se estende para além da conta bancária e abrange os principais fatores de saúde. De acordo com as pessoas ouvidas, as preocupações com os problemas financeiros tiveram um impacto negativo para:
- Dormir – 56%
- Saúde mental – 55%
- Autoestima – 50%
- Saúde física – 44%
- Relacionamentos em casa – 40%
Mas como ajudar o funcionário?
Segundo a assistente social, com MBA em Gestão de Pessoas e Negócios, Gracia Fragalá, membro do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), existem várias maneiras pelas quais as empresas podem ajudar a melhorar a saúde financeira de seus colaboradores.
“A primeira e amais importante é oferecer salários competitivos e realizar revisões salariais justas”, afirma.
Ultrapassada essa etapa, as organizações podem também oferecer:
- programas de Educação Financeira, para capacitar os funcionários a gerenciar melhor suas finanças;
- benefícios financeiros, como planos de aposentadoria, contas de poupança, assistência para pagamento de empréstimos estudantis ou outros benefícios que ajudem os funcionários a alcançar seus objetivos financeiros;
- disponibilizar parcerias com consultores financeiros externos ou oferecer consultas internas que podem ajudar os funcionários a desenvolver planos personalizados;
- políticas que ofereçam flexibilidade financeira, como opções de trabalho remoto, horários flexíveis ou programas de licença, que podem ajudar a equilibrar as responsabilidades financeiras e profissionais;
- fundos de emergência ou programas de assistência em casos de crise podem ser vital para ajudar os profissionais a enfrentar desafios financeiros imprevistos;
- programas que incentivem a poupança, como correspondência de contribuições para planos de aposentadoria ou programas de participação nos lucros;
- oportunidades de treinamento e desenvolvimento profissional pode aumentar as habilidades dos funcionários, tornando-os mais competitivos no mercado de trabalho e potencialmente melhorando sua situação financeira a longo prazo;
- benefícios de saúde mental podem ajudar a mitigar o estresse relacionado às preocupações e aos problemas financeiros.
“Ao implementar essas estratégias, as empresas podem não apenas melhorar a saúde financeira de seus funcionários, mas também criar um ambiente de trabalho mais positivo e produtivo. Cada organização pode adaptar essas abordagens de acordo com suas necessidades específicas e recursos disponíveis”, esclarece.
Sustentabilidade e responsabilidade social
A especialista explica que a relação entre educação financeira, promoção da saúde e as práticas de ESG (ambiental, social e governança) encontra seu embasamento na abordagem sistêmica adotada pelas empresas em direção à sustentabilidade e responsabilidade social.
A dimensão social refere-se também às práticas e políticas que uma organização adota para promover o bem-estar, a diversidade, a inclusão e o engajamento dos seus profissionais e não apenas às ações voltadas para a sociedade.
Gracia enfatiza que essa dimensão social do ESG, relacionada ao público interno, está sendo cada vez mais reconhecida como fundamental para o sucesso sustentável e a longo prazo das organizações.
“Investidores orientados por critérios ESG estão cada vez mais interessados na forma como as empresas abordam questões sociais. Organizações socialmente responsáveis buscam garantir remuneração justa e equidade salarial. Isso envolve a eliminação de disparidades salariais injustas com base em gênero, raça, ou outros fatores”, revela.
Contudo, essas ações também têm um papel crucial para que as empresas contribuam no avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), pelo entendimento que o papel “da comunidade empresarial como agente de transformação também é garantir a competitividade dos negócios na economia mundial e a inclusão de lideranças em fóruns decisórios globais de referência”.
“O setor privado tem um papel essencial nesse processo como grande detentor do poder econômico, propulsor de inovações e tecnologias, influenciador e engajador dos mais diversos públicos – governos, fornecedores, colaboradores e consumidores”, explica.
Cumprimento de metas
Além disso, a Rede Brasil do Pacto Global desenvolveu estratégias para acelerar o cumprimento das metas propostas na Agenda 2030 e organizou a ação em movimentos específicos que estão “chamando às empresas brasileiras para reconhecerem a urgência e a necessidade de promover ações concretas com metas, assumindo compromissos públicos”.
Gracia lembra que o Movimento Salário Digno – uma iniciativa do Pacto Global da ONU – Rede Brasil e ONU Mulheres – tem a ambição de garantir 100% de salário digno para funcionários, incluindo operações, contratados e/ou terceirizados, promover e engajar toda a cadeia de suprimentos para desenvolver metas de salário digno.
A especialista ainda pontua que a equiparação salarial entre homens e mulheres e multa por práticas discriminatórias em razão de sexo, raça, etnia ou idade, como estabelecido pela Lei de Igualdade Salarial (n.º 14.611/2023), e políticas de cargos e salários que promovam a igualdade contribuem diretamente para vários ODS e podem impactar positivamente a saúde financeira, física e mental dos trabalhadores. Porém, ainda existem organizações que podem resistir a mudanças ou podem não perceber plenamente os benefícios de tais práticas. “As equipes que atuam com programas de diversidade, equidade e inclusão enfrentam ainda culturas organizacionais tradicionais com estruturas e mentalidades arraigadas que resistem à mudança. A implementação de práticas inclusivas requer uma revisão profunda da cultura da empresa, o que pode ser desafiador”, finaliza.