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A busca por equilíbrio emocional tem aumentado gradativamente nos últimos meses, em razão do distanciamento social e da pandemia de Covid-19, e no ambiente corporativo nunca se falou tanto na saúde mental dos colaboradores.
O motivo: 47,3% dos trabalhadores brasileiros apresentaram sintomas de ansiedde e depressão durante esta pandemia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e até 2030 a depressão será a doença mais comum no país.
O Brasil tem o maior número de indivíduos ansiosos no mundo: 18,6 milhões de brasileiros (8,8% da população) convivem com esse transtorno. Esses dados são de 2019. Se antes da pandemia do novo coronavírus o cenário de saúde mental do brasileiro já era alarmante, nesse momento é fundamental que as empresas olhem para essa situação e invistam em iniciativas que visem o equilíbrio emocional de seus colaboradores, focando tanto no indivíduo, quanto no coletivo, principalmente para a retomada das atividades.
“Os números são preocupantes e refletem como a prevenção e o autocuidado são fundamentais para o equilíbrio físico e emocional e para o bem-estar e a qualidade de vida dos colaboradores. Este ponto também diz respeito às organizações, que devem desenvolver ações que promovam um ambiente favorável para garantir a estabilidade psicológica de seus profissionais e, de certa forma, aos que estão ligados eles”, defendeu Juliana de Aquino, psicóloga, com pós-graduação em Gestão de Negócios, responsável pelo gerenciamento do Centro de Expertise com as áreas de Recrutamento & Seleção, Treinamento e Desenvolvimento, Remuneração, Expatriados, Bem Estar e Diversidade na Enel Brasil, ao participar do webinar “A vida hoje! Preservando e construindo o equilíbrio emocional”, promovido, no fim de janeiro, pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).
O avanço global da Covid-19, de acordo com a especialista, veio aprofundar o que já era tido como uma pandemia silenciosa — a dos transtornos mentais — e chamar a atenção para o fato de que cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do físico. Até porque, pelo conceito da própria OMS, saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou de enfermidade”.
Em maio de 2020, um levantamento realizado pelo Instituto Bem do Estar e pela NOZ Pesquisa e Inteligência com mais de 1.500 pessoas em todo o país mostrou que 53% estavam tendo alterações de humor durante o isolamento social, sendo que as impressões mais citadas foram medo acima do normal (71%), preocupação (70%), desânimo (56%) e sensação de que algo muito ruim podia acontecer (51%).
“Com isso, os índices de estresse, Burnout, ansiedade e depressão estão em alta e as empresas precisam urgentemente cuidar do psicológico dos seus times”, afirmou Juliana.
Frente a esse contexto, as organizações estão trazendo essa pauta para dentro das instituições, como parte dos seus assuntos cotidianos. A especialista da Enel contou que a companhia tomou medidas de enfrentamento da pandemia desde o início, colocando grande parte de seus colaboradores no trabalho remoto e apenas os que são da área operacional continuaram atuando em campo. Também criaram grupos virtuais para saber como os trabalhadores estavam lidando com o novo cenário de crise sanitária e toda as mudanças advindas com a situação.
Juliana contou que reforçaram o conceito de trabalho sustentável, fortalecendo o valores da instituição: inovação, responsabilidade, proatividade e confiança, e, partir dessa reflexão, criaram um manifesto de bem-estar: um documento que circulou na empresa a todos os colaboradores, desde a alta administração, gestores, líderes até as equipes do operacional e os parceiros, com uma série de iniciativas de cuidados e orientações de saúde e bem-estar, com foco na qualidade de vida, fundamentado em três pilares: mente, corpo e coração.
A importância da atividade física e de se beber água, dicas de exercício, de alimentação saudável são cuidados sobre o corpo que constam no documento.
Na parte sobre o coração, as dicas vão desde como manter a aproximação e os vínculos familiares e com os colegas durante a pandemia até como lidar com a tristeza e a angústia que envolvem esse novo normal.
Sobre a mente, as orientação do manifesto da Enel são sobre a utilização do tempo, organização do trabalho, importância das pausas para manter o equilíbrio emocional, diminuir o estresse e ansiedade, além de como canalizar a energia para o bem do organismo. A companhia ainda fez uma parceria com a empresa MindSelf para a prática da meditação mindfulness.
“A meditação é uma alternativa para vencer esses obstáculos, o estresse, o desânimo, a tristeza, o pessimismo e amenizar vulnerabilidades. É uma prática que vem ganhando destaque pelos seus comprovados resultados, pois proporciona momentos de relaxamento, elimina as tensões e angústia e contribui para o equilíbrio emocional tão importante para o nosso bem-estar”, destacou a psicóloga.
Em paralelo às ações, Juliana ressaltou ser importante que os gestores e líderes estejam alinhados aos mesmos propósitos que seus liderados, que tenham empatia, boa comunicação, estimulem o autocuidado para que essas iniciativas se revertam em mais bem-estar e saúde mental aos colaboradores.
“Ainda teremos muito desafios este ano e as organizações precisam abraçar seus colaboradores na busca por resultados, entendendo a importância do equilíbrio emocional. Esse cuidado com as pessoas é o pilar fundamental para a sustentabilidade das organizações”, garantiu Juliana de Aquino.
Ressignificar a alta performance
Não é novidade que o bem-estar emocional aumenta a produtividade dos colaboradores. De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia (EUA), um funcionário feliz é 31% mais produtivo, três vezes mais criativo e vende 37% mais.
Na prática, esses dados apontam para um aprendizado em 2021: nem sempre a produtividade elevada dos colaboradores significa bem-estar. Muitas vezes, ela é resultado de um conjunto de fatores que envolve ansiedade, incerteza e medo, que a médio e longo prazos podem ser prejudiciais ao colaborador e à empresa.
A questão está em ressignificar o que é a alta performance com o bem-estar emocional dos colaboradores. A meditação é uma alternativa para vencer esses obstáculos e amenizar as vulnerabilidades.
Forma terapêutica que ganhou importância em meio às aflições geradas em torno da Covid-19, sua prática consiste em recarregar energias e atuar na recuperação do foco na saúde, no bem-estar e na satisfação.
“A meditação reduz o estresse, aumenta o bem-estar e controla a ansiedade. A gente não estava preparado para viver as situações que passamos a viver diariamente. Buscamos o autoconhecimento que gera resultado na vida pessoal, primeiramente, e, consequentemente, traz muitos resultados positivos para a vida profissional também”, afirmou Alexandre Ayres, sócio fundador e CEO da MindSelf – empresa especializada em desenvolver programas de mindfulness e meditação como ferramenta de desenvolvimento pessoal para dentro das organizações. Ele falou sobre a importância do equilíbrio emocional, do autoconhecimento e das atividades de bem-estar para a vida dos profissionais no webinar promovido pela ABQV, que teve como coordenador Jean Felippe Kalil Makdissi, diretor de Expansão e Mercado da entidade.
Ayres comentou que as mudanças rápidas trazidas pela pandemia, a morte como um assunto tão presente na vida de todos têm feito muitas pessoas adoecerem emocionalmente. Segundo a Previdência Social, cinco de dez afastamentos do trabalho já são por questões emocionais (dois por ansiedade e três por depressão).
“Precisamos falar sobre a importância do equilíbrio emocional. Vivemos com a sensação de que o tempo voa, já passamos dos 300 dias em casa e a sensação de não termos tempo para realizar todas as nossas atividades só cresce. A sensação de exaustão física e emocional aumenta a cada dia. Temos tentado viver essa vida multitarefa, mas o nosso cérebro não está preparado para isso. O esgotamento mental se deve a essa quantidade de trocas para realizar todas as atividades demandadas”, explicou Ayres.
A relação entre a meditação e a saúde mental é reforçada pelo Ministério da Saúde e recomendada pela Organização Mundial da Saúde. Em maio de 2006, sob o respaldado da entidade internacional, o MS aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, dentre elas a meditação.
“Com o ritmo que o mundo estava vivendo, nunca se imaginou que hoje estaríamos passando por todas essas transformações no nosso dia a dia. Fomos obrigados a desempenhar papéis diferentes do que estávamos habituados, foi necessário continuar nos reinventando para trabalhar e nos adaptar ao home office, passamos a viver em alerta e isso é muito desgastante”, destacou Ayres, que aproveitou para desmistificar a prática da meditação, que ajuda as pessoas a se manterem atentas, com controle de atenção, foco e exercita o autoconhecimento. “A meditação não se vincula a nenhuma religião e é para todos, não somente para pessoas chamadas iluminadas, evoluídas. É para quem querqualidade de vida”, reforçou.
Pesquisas recentes indicam relação direta entre frequência de práticas meditativas e maiores níveis de consciência plena e felicidade. Estudo feito na Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, é mais um a dar aval científico à prática. De acordo com o trabalho, meditar durante 30 minutos todos os dias ajuda a aliviar sintomas da ansiedade, depressão e dores crônicas. Pessoas que meditam todos os dias têm uma diminuição na produção de adrenalina e cortisol, hormônios associados a distúrbios como ansiedade, déficit de atenção, hiperatividade e estresse, além de experimentarem um aumento na produção de endorfinas, ligadas à sensação de felicidade. A mudança na produção de hormônios foi observada por pesquisadores do Davis Center for Mind and Brain, da Universidade da Califórnia.
“A meditação traz inúmeros benefícios: ajuda a administrar sentimentos, promove a autoconfiança e o autocontrole com o consequente benefício de realizar tarefas com mais eficiência e prazer, melhora a saúde física e mental”, ressaltou Alexandre Ayres.
Os participantes do webinar puderam ainda fazer uma dinâmica de meditação guiada com o CEO da Mindself. Assista a prática no canal do YouTube da ABQV.