Webinar – Como fica a saúde e o bem-estar com a prática do home office?
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Com a chegada da pandemia e a implementação forçada do home office devido ao isolamento social, os profissionais passaram por um processo de adaptação. Como conseguir equilibrar a produtividade, a segurança do emprego, a boa relação com a família e a saúde mental em um cenário tão incerto e complexo – e sem sair de casa?
A rotina do trabalho remoto na pandemia da Covid-19, que já dura mais de cinco meses, revelou novos dilemas no mundo do trabalho – ou tornou mais comum alguns que sempre existiram, como a dificuldade de equilibrar a vida profissional e a pessoal. “Os impactos dessa nova rotina estressante ainda estão sendo assimilados. Sintomas de ansiedade, depressão, insônia e irritabilidade passaram a ser cada vez mais relatados às equipes de RH. Será preciso pensar em políticas globais de saúde e bem-estar físico e mental para os colaboradores”, afirmou Karina Stryjer, psicóloga, especialista em gestão da qualidade de vida no trabalho, ao participar do webinar “Equilíbrio entre vida e trabalho em home office prolongado”, promovido, em 19 de agosto, pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).
Como ninguém esperava que fosse durar tanto tempo, segundo Karina, o que no início parecia interessante e até mais produtivo, já que o desgaste físico e estressante do deslocamento foi trocado pela autonomia para criar a própria rotina, tornou-se algo delicado, pois foi ficando cada vez mais difícil ter de lidar com a vida pessoal e profissional no mesmo ambiente. “Para muitos, os limites do home office são curtos: não tem pausa para o almoço, nem para o deslocamento. Antes havia uma troca de papel: saía do trabalho e chegava-se em casa, deixava a função profissional e pensava nos afazeres domésticos. Agora não. Tudo está acontecendo ao mesmo tempo e muitos não conseguem mais conciliar todos os afazerem”, explicou.
E isso tudo é normal, na visão da psicóloga, afinal, estamos no meio de uma pandemia. Ainda assim, Karina diz que é importante buscar o equilíbrio entre as tarefas do trabalho e de casa de forma leve e tranquila, inclusive a saúde mental, para enfrentar esse momento conturbado da melhor maneira possível. “As notícias ainda não são boas sobre a Covid-19, as regras sobre distanciamento social continuam valendo. O medo do contágio, de perder quem amamos, a insegurança com o trabalho e a condição financeira permanecem para a maioria das pessoas. O sofrimento ainda é grande e o companheirismo, a compaixão e a amizade podem ajudar quem precisa neste momento.”
Para a especialista, não se pode deixar de lado a questão da saúde mental, que vai além da ausência de transtornos mentais e deve ser considerada como parte integrante da saúde. Ela explica que existem estratégias e intervenções eficazes em termos de saúde pública, intersetoriais e laborais para promover, proteger e restaurar o psicológico e o emocional do indivíduo e do seu entorno. “A saúde mental tem de estar englobada em todas essas habilidades e é preciso discutir e refletir mais sobre o tema, quebrar o estigma e o preconceito”, destacou.
Anteriormente à pandemia, os dados sobre saúde mental já eram preocupantes e com o atual cenário de dúvidas, incertezas, insegurança e estresse devem piorar.
Segundo o Ministério da Saúde, uma a cada cinco pessoas no trabalho podem sofrer de algum problema de saúde mental e os problemas impactam diretamente no ambiente profissional, causando perda de produtividade e faltas ao trabalho, entre outros.
No Brasil, entre 2012 e 2018, foram concedidos 777.444 benefícios, isto é, em média, mais de 111 mil trabalhadores se afastaram dos seus ambientes de trabalho ou das empresas por doenças mentais e comportamentais.
Dados da última pesquisa da Isma-BR, representante local da International Stress Management Association, de 2018, indicam que nove em cada dez brasileiros no mercado de trabalho apresentam sintomas de ansiedade, do grau mais leve ao incapacitante. Cerca de 47% sofrem de algum nível de depressão, recorrente em 14% dos casos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) também alerta que uma em cada quatro pessoas sofrerá com um transtorno da mente ao longo da vida. No Brasil, 70 milhões de pessoas tem transtornos mentais, de acordo com a entidade internacional. 30 milhões sofrem de ansiedade e depressão, que são as principais causas de incapacitação, ocupando o quinto e o sexto lugar, respectivamente, após dores no pescoço (1º), costas (2º), doenças da pele (3º) e enxaqueca (4º). E o álcool é o principal fator de risco para desencadear outras condições de saúde até de morte. “O mundo todo está preocupado com o que pode ser a quarta onda em decorrência da pandemia, que pode ser a maior crise de saúde mental da história. Iniciativas visando o bem-estar mental, psíquico e emocional devem fazer parte das ações contra a Covid-19, durante e após a pandemia, inclusive com aumento de investimento nas condições de saúde”, ressaltou Karina.
Atuação das organizações
Apesar dos números, poucas empresas mantêm um programa de saúde psicológica e emocional para seus empregados. A psicóloga alerta que o mundo corporativo ainda tem desconforto ao tratar do tema. “Temos de fornecer dados aos gestores sobre o bem-estar dos colaboradores nas empresas. O próprio RH pode auxiliar com um discurso embasado em dados, inclusive econômicos”, afirmou, lembrando que é importante promover encontros virtuais e estimular os profissionais a terem uma rotina com horário para começar e parar de trabalhar, ter tempo para o lazer, para dormir e se alimentar adequadamente.
Karina chamou a atenção para a necessidade de prevenção e intervenção precoce com a adoção de mecanismos de vigilância, notificação e intervenção em casos de violência doméstica, indícios de tendências suicida, surtos, abuso infantil e sofrimento intenso. “É hora de todos nós estarmos preparados para lidarmos com essas situações e abrimos as portas para quem pode estar precisando de ajuda. A pandemia pode ser a oportunidade para redescobrirmos coisas interessantes e que nos dão prazer e que havíamos deixamos de lado. Vale apenas fazer esse exercício”, garantiu.
Para Ana Cristina Limonji-França, psicóloga e membro do Conselho Deliberativo da ABQV, que mediou o debate, este é o momento de olhar mais atentamente para a qualidade de vida de forma estratégica. “O alcance da satisfação e do bem-estar não é responsabilidade apenas do colaborador. A empresa tem de promovê-los, o que, consequentemente, resultará em maior produtividade e profissionais saudáveis.”
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) orienta que no ambiente das organizações é necessário reconhecer sinais de depressão dos trabalhadores, como a tristeza excessiva, a falta de esperança, a perda de interesse em atividades que antes traziam prazer e as modificações de apetite e hábitos de sono. Também é recomendado que o colaborador busque ajuda quando necessário e apoie quem esteja precisando, converse com seu empregador sobre suas necessidades emocionais e pratique o autocuidado e a capacidade de se adaptar às novas situações.
Na opinião de Diego Maia Lopes, formado em Gestão de Recursos Humanos e coordenador dos programas de qualidade de vida do governo de Roraima, que participou do webinar promovido pela ABQV, sob a coordenação do diretor de Educação e Conhecimento da entidade, Eduardo Bahia Santiago, as empresas devem estar alinhadas com as novas demandas e adotar estratégias voltadas para o desenvolvimento sustentável da organização e de seus colaboradores. “É fundamental promover ambientes de trabalho seguros para todos os trabalhadores, estejam eles remotamente ou in loco, além de proporcionar a segurança física deles, estendendo-se ao bem-estar mental e psicológico. Isso é bom para a saúde do funcionário e da própria empresa”, destacou.
Para ter o equilíbrio entre trabalho e vida, segundo Lopes, é preciso desenvolver três elementos subjetivos: o conhecimento de suas tarefas; o autoconhecimento, para saber seus limites e a capacidade de transição de seus pensamentos e atitudes; e o mais importante, ter uma comunicação ativa, transparente e sincera. “Creio que desenvolvendo esses três fatores é possível ter um home office saudável”, afirmou, sem esquecer que é importante que o RH das empresas esteja alinhado com os profissionais, reforce e auxilie na questão da ergonomia e faça a gestão de pessoas para estimular a sensação de pertencimento dos colaboradores.
O período é de preoucpação coletiva, reforçou Lopes, e no home office, a promoção da qualidade de vida está relacionada a um ambiente adequado para que o funcionário possa exercer sua atividade da melhor forma, assim como a criação de uma cultura organizacional que proporcione boas condições de trabalho. “A palavra de ordem tem de ser empatia. As lideranças devem entender que este é um momento para serem absolutamente empáticas, compreendendo a realidade de cada indivíduo para o cumprimento das tarefas e metas. É hora de resgatarmos nossa humanidade”, finalizou.