ABQV apoia a primeira reunião de Coalizão Osteoporose 2020
15 de maio de 2020Webinar Especial – O corpo em equilíbrio: a ergonomia e ações digitais de saúde em casa
28 de maio de 2020Durante uma pandemia, como esta do novo coronavírus, é esperado que as pessoas estejam frequentemente em estado de alerta, preocupadas, confusas, inseguras, estressadas e com a sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Toda essa situação pode afetar a saúde, inclusive mental, por isso os cuidados precisam ser redobrados.
No webinar “Equilíbrio emocional em tempos de crise”, promovido pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), em 13 de maio, foi discutido que para conseguir manter o bem-estar físico e mental, o autoconhecimento, a organização e a comunicação são armas fundamentais para enfrentar este momento difícil e inesperado.
Para a psicóloga com especialização em terapia cognitiva, Milene Rosenthal, conhecer a si mesmo é uma ótima maneira para se aperfeiçoar e obter uma melhor atuação na vida, tanto no campo profissional, quanto pessoal. “Isso nos dá força para termos mais confiança e acreditar mais em nós mesmos. Com esse esforço e compreensão da vida que temos, é possível enfrentar situações adversas como esta do coronavírus”, explica.
Se quanto mais nos empenharmos em nos conhecer, mais fácil é lidar com as angústias vividas nestes tempos, Milene destaca que é importante lembrar que cada ser humano reage de um modo, ainda que as situações sejam semelhantes. “Nem todo mundo vai conseguir superar esta fase da melhor forma, portanto, não se culpe! Não há uma receita pronta que, após segui-la, todos vão alcançar o bem-estar durante e após o confinamento, mas algumas atividades podem ser bastante benéficas.”
Ela sugere ações simples como tentar manter uma rotina diária para evitar sofrer com todas as incertezas e medos que o momento provoca; fazer exercícios e/ou técnicas de relaxamento; ler um livro; estabelecer atividades comuns entre os membros da casa; aprender uma nova atividade; tudo com organização e horários definidos, inclusive para trabalhar e repousar. “É preciso saber o momento de produzir e de desligar”, diz a psicóloga.
Como dica, ela propõe criar rituais de trabalho, anotara as tarefas do dia, incluir intervalos para o almoço, o lanche e até para o bate-papo com o colega, como se fazia no escritório, só que agora on-line.
Aliás, uso da tecnologia é uma ferramenta que pode auxiliar, e muito, segunda Milene, a manter o equilíbrio em tempos de crise. “O isolamento é físico e não social. As tecnologias atuais permitem mantermos contato com familiares, amigos e colegas, seja pelas redes sociais ou por outras ferramentas digitais que permitem o contato visual com outras pessoas”, comenta.
Os avanços tecnológicos auxiliam, inclusive em outro pilar importante para o enfretamento de crises: a comunicação. Considerado um ponto fundamental para que o trabalho home office dê certo, saber se comunicar de maneira não violenta e com transparência é a melhor maneira que líderes e gestores podem ter para definir as prioridades, estratégias, manter o foco de suas equipes e gerar o engajamento de todos. Esse contato também é importante, segundo a psicóloga, para manter a equipe unida e por dentro do que está acontecendo, além de aumentar a sinergia entre todos e estimular a criatividade e o surgimento de novas ideias.
Ajuda terapêutica
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados.
Os relatórios da entidade internacional indicam aumento nos sintomas de depressão e ansiedade em vários países. Durante a pandemia, na China, os profissionais de saúde relataram altas taxas de depressão (50%), ansiedade (45%) e insônia (34%) e, no Canadá, 47% dos especialistas registraram a necessidade de suporte psicológico.
Os números preocupam no Brasil, pois antes da crise de emergência em saúde pública o país já enfrentava uma epidemia de ansiedade. Segundado dados da OMS de junho de 2019, o país tinha o maior número de pessoas ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) conviviam com o transtorno.
Pesquisa realizada no início de maio pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) com cerca de 400 médicos de 23 Estados e do Distrito Federal, mostrou que 89,2% dos entrevistados destacaram o agravamento de quadros psiquiátricos em seus pacientes devido à pandemia de Covid-19. Dos consultados, 47,9% tiveram aumento nos atendimentos após o início da crise e 67,8% receberam pacientes novos, que nunca haviam apresentado sintomas psiquiátricos antes, após o início da pandemia e do isolamento social.
“A pandemia e a quarentena trouxeram muitos impactos além do social: queda de receita com dos salários, perda de emprego, conflitos internos diante das incertezas, o medo do contágio e a perda de membros da família e de amigos são agravados pelo sofrimento e ampliados pelo isolamento”, constata a psicóloga com especialização em psicologia da saúde ocupacional, Fátima Macedo, que participou do webinar promovido pela ABQV, que foi coordenado pelo diretor de Educação e Conhecimento da entidade, Eduardo Bahia Santiago.
Somar a privação da liberdade à uma rotina de trabalho exagerada, dias desregrados e ausência de atividades que promovam satisfação, de acordo com Fátima, é um prato bem cheio para o sofrimento psíquico e para as doenças mentais.
Neste momento, a terapia e o apoio psicológico ajudam nesse processo. “O autoconhecimento é essencial para que tenhamos ótimas performances em nossas vidas e nos auxilia a ter uma melhor saúde física, mental, emocional e espiritual. Um pacote completo para o que mais precisamos nos dias de hoje e de amanhã, pois não se sabe o que está por vir”, destaca a psicóloga.
A telepsicologia e terapia on-line já eram uma realidade antes mesmo da Covid-19. O atendimento virtual, segundo Fátima, traz uma série de facilidades, como realizar uma sessão no conforto de casa, no seu melhor horário, sem precisar se deslocar e se expor, já que muitos deixam de procurar ajuda exatamente por medo de sair na rua e pegar o novo coronavírus.
A psicóloga menciona ainda que durante o atendimento on-line é possível identificar algumas características que podem indicar se a pessoa está deprimida ou passando por um período difícil, como a ausência de cuidados pessoais ou o abuso de bebidas alcóolicas ou outras drogas
Além da terapia, a Fátima cita que criar uma rotina, cuidar da alimentação com uma dieta saudável, fazer exercícios físicos, ter momentos de lazer, horário para dormir para ter qualidade de sono e de vida e manter o contato virtual com amigos e familiares também funciona como apoio social.
As empresas podem e devem fazer a sua parte estando atentas à saúde, inclusive mental, dos colaboradores. “Os líderes e gestores devem estar em contato frequente com suas equipes e, se precisar, pedir auxílio ao RH, para detectar se alguém está precisando de ajuda”, recomenda a psicóloga, que sugere que as instituições tenham ações de promoção à saúde para levar conforto emocional, segurança e bem-estar e proporcionar qualidade de vida a seus funcionários.
Outro ponto importante citado por Fátima é aceitar que o mundo mudou e que a realidade não será mais a mesma. “Não sabemos o que vem pela frente. As pessoas, os hábitos, o trabalho, tudo mudou. Fomos forçados a evoluir alguns anos em dias. Apesar do cenário ser incerto globalmente, temos que nos lembrar do que nos conecta, como a gratidão que traz bem-estar. E calma, vai passar.”