Webinar – As relações familiares em tempos de isolamento social
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25 de junho de 2020Empresas devem colaborar estando atentas e cuidando da saúde física e mental de seus colaboradores
A pandemia impactou a vida de todos de diferentes maneiras e com ela veio a certeza de que não seremos mais os mesmos. Em poucos dias a humanidade precisou aprender a trabalhar de casa, se comunicar utilizando novos aplicativos, estudar pela internet, fazer compras on-line, acompanhar notícias sobre um doença desconhecida, além de aprender a se proteger contra este vírus.
O termo novo normal tem sido amplamente divulgado, referindo-se à volta à realidade diante das mudanças profundas nas rotinas e hábitos. No entanto, esses novos tempos exigem do ser um humano mais tolerância à frustração. No contexto profissional, os desafios têm sido muitos. “Se antes as companhias já tinham de fomentar um ambiente de atuação saudável, essa missão se tornou mais indispensável do que nunca; e recursos como equipamentos, atividades de interação, apoio médico e psicológico são fundamentais para viabilizá-la”, afirmou a psicóloga Rita Cotrim Passos, diretora de Negócios e Serviços ao Cliente da CGP Brasil, ao participar do webinar especial Como podemos promover a qualidade de vida em tempos de coronavírus, que tratou do tema: “Experiências sobre o que se pode fazer para as organizações e empresas”, promovido pela Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV), em 27 de maio.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade; e de acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde, os transtornos psicológicos são a terceira maior causa de afastamento dos colaboradores nas empresas ao solicitarem o auxílio-doença pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Em um contexto de tamanha tensão, é preciso se reinventar para impedir que esses distúrbios emocionais terminem em uma depressão.
A preocupação com a saúde mental atinge dois grupos, tanto os profissionais que estão em isolamento, quanto os que estão nas operações que não podem parar. “O importante é construir canais para dar vazão ao estresse dessa situação”, diz Rita.
O problema, segundo a psicóloga, é que estamos com pouco tempo para reconhecer as emergentes demandas, desenvolver ou aperfeiçoar as habilidades necessárias e emocionalmente equilibrados para, mesmo diante das pressões do aqui e agora, ter calma para manter o controle, o foco e começar a se movimentar na direção correta.
O movimento VUCA, surgido na década de 1990 no ambiente militar americano e incorporado mais recentemente ao vocabulário corporativo, utilizado para descrever quatro características marcantes do momento em que estamos vivendo: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, e explicar o mundo no contexto pós-Guerra Fria, também se aplica ao ambiente atual, só que ainda mais acelerado. “O que gera novos desafios tanto para os profissionais quanto para as organizações”, alerta Rita.
O principal impacto para as empresas é a dificuldade de ter previsibilidade nos planejamentos. Ela explica que a diferença é que atualmente mais prudente que projetar cenários de longo prazo é ter agilidade na capacidade de resposta às demandas do ambiente. “Como pouco se sabe ainda sobre o novo coronavírus, é complexo prever qualquer resultado referente a extensão e duração do problema, ainda mais aliado a uma somatória de fatores peculiares que temos no país (sociais, econômicos e biológicos). Entender um pouco mais esses sentimentos e aprender a se relacionar com eles, nos ajuda a enfrentar situações imprevistas e inéditas, como esta que estamos vivendo, e as empresas passaram a ter olhos para isso.”
Tantas incertezas no dito, novo normal, levaram as organizações e instituições de diversos setores a apostarem em soluções como apoio ao emprego, ações que promovam a interação, mesmo a distância, como webinares, tudo para ajudar no amparo à saúde mental de seus colaboradores questão trabalhado in loco e em home office e estendendo aos familiares.
Rita explica que o assunto de saúde mental já tomava cada vez mais espaço dentro das empresas antes da pandemia, quando perceberam que o maior ativo é o capital intelectual e humano. “A crise de saúde e econômica, bem como as instabilidades e incertezas que traz, aceleraram a busca das empresas por cuidar da saúde emocional de seus colaboradores. Com a pandemia, ficam mais evidentes as várias enfermidades de saúde mental, como ansiedade e depressão e até burnout, de quem não consegue ter hábitos saudáveis de parar de trabalhar, dividir o tempo”, afirma.
A psicóloga acredita que com o isolamento social as pessoas do setor de gestão de recursos humanos das empresas estão tendo que se reinventar e uma série delas oferece agora atendimento psicológico de um profissional on-line.
Para ela, o teleatendimento tem sido usado em diversas áreas e é inevitável dizer que tal prática veio para ficar e, em certa medida, democratizar o acesso à saúde. “O atendimento assistencial e psicológico identificada a real situação do trabalhador e possibilita o cuidado desse profissional para que sua condição não se agrave e, dependendo da intensidade do problema, identifique a necessidade de outros ações, como apoio social, financeiro e jurídico”, explica.
Gestão e humanização
Ações como essas devem ser acompanhadas pelos líderes, gestores e ser uma preocupação da diretoria também para a melhor gestão e humanização do cuidado, diz a especialista em medicina de Família e Comunidade e médica do Trabalho da Petrobras, Mariana Costa Rodrigues, que também participou do webinar “Experiências sobre o que se pode fazer para as organizações e empresas”, coordenado pelo diretor de Educação e Conhecimento da ABQV, Eduardo Bahia Santiago. “Esse acompanhamento mais próximo permite termos uma avaliação constante da saúde emocional, mental e física do funcionário para oferecer auxílio necessário para enfrentar este momento.”
Mariana explica que a Petrobras criou um sala de crise, desde março, e tomou medidas para reduzir a propagação do vírus no seu complexo e em todas as unidades da estatal. Todos os colaboradores que podem exercer suas atividades a partir do trabalho remoto estão em casa.
Também estão monitorando e atendendo adequadamente casos suspeitos e profissionais acometidos; mapearam as ações necessárias para prevenir o impacto da Covid-19 nas suas instalações; e garantiram a comunicação eficaz mantendo os públicos interno e externo informados sobre as medidas preventivas e diretrizes em andamento.
Adotaram como medidas repatriar os que estavam na China, suspenderam as viagens e intensificaram a higienização, passaram a fazer o monitoramento e barreiras pré-embarques nas plataformas e pré-jornada e realizaram testagem pelos exames RT-PCR e sorológicos.
Esses cuidados fazem a diferença para o profissional que está cheio de incertezas e medos diante do cenário atual, enfrentando uma situação nunca vista por ele antes. “As empresas precisam ser solidárias, praticar a empatia e cuidar também dos que estão a redor. O retorno do nosso colaborador tem sido positivo”, destaca Mariana.
A endocrinologista e médica do Trabalho que também atua na Petrobras, Elizete Pires Maggessi, lembra que o importante é as empresas oferecerem um canal de apoio para os funcionários. “Conversar, fazer a anamnese, saber suas angústias tem valor para esse colaborador, dá mais segurança para ele e sua família, o que é positivo para a empresa. O sustentável é cuidar de cada pessoa”, sintetiza.
Tais práticas, segundo Elizete, promovem um clima organizacional equilibrado e integram as áreas a distância, de modo a evitar o isolamento das atividades laborais, independentemente do setor ou função na qual o profissional atua. “Vivenciamos o valor do cuidado em primeiro lugar todos os dias e, em tempos difíceis como este, temos que estar ainda mais atentos e olhando para garantir um ambiente de trabalho saudável”, finaliza.