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A qualidade de vida no ambiente de trabalho visa facilitar e satisfazer as necessidades do trabalhador em suas atividades na organização por meio de ações para o desenvolvimento pessoal e profissional. Na administração pública, a busca pelo bem-estar dos servidores também deve acontecer. E as instituições vêm implantando programas específicos que envolvem o grau de satisfação da pessoa com o ambiente de trabalho, o melhoramento das condições gerais, promoção da saúde e segurança, integração social e aprimoramento das capacidades humanas.
“Políticas e práticas de gestão de pessoas referentes à qualidade de vida no trabalho têm sido valorizadas como forma de integrar o indivíduo à organização harmonicamente, mantendo sua integridade física e mental, melhorando o rendimento funcional e a qualidade do processo produtivo nas instituições”, afirmou Tiago Regis Franco de Almeida, bacharel em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública e capitão do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (CBPMESP), durante o webinar “Iniciativas de sucesso em qualidade de vida no serviço público”, promovido pela Associação Brasileira de Qualidade Vida (ABQV), em outubro.
Para o capitão, as iniciativas em prol do bem-estar do servidor público proporcionam maior participação por parte dos trabalhadores, promove a integração com os superiores, com os colegas e com o próprio ambiente de trabalho.
As atribuições relacionadas às atividades perigosas, ocasionam, muitas vezes, sérios riscos à saúde, exigindo atenção, alta carga de cognição, rápidas e precisas tomadas de decisão e constante estado de alerta que podem influenciar na capacidade de trabalho e qualidade de vida dos bombeiros. “No Brasil, foram realizados alguns estudos sobre a temática saúde-trabalho-doença desses profissionais que apontaram que eles passam por situações de estresse e tensão e que por isso a categoria possui fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome de Burnout e também de doenças relativas às questões emocionais e psicológicas”, contou o capitão Franco.
Ele lembrou que o bem-estar no ambiente profissional está relacionado às formas de evitar os problemas, à busca pela satisfação, à saúde mental e à necessidade de garanti-la no trabalho. “É preciso ofertar possiblidades concretas aos bombeiros de serem compreendidos como sujeitos integrais e terem preenchidas as suas expectativas, necessidades”, alertou.
E foi isso que o fez a CBPMESP ao implantar o Centro de Atenção e Apoio Psicossocial (CAPS), na capital paulista, e 41 Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) espalhados pela corporação dentro dos Estado de São Paulo. São 130 psicólogos à disposição dos policiais militares e bombeiros paulistas, que realizaram 40 mil atendimentos psicológicos em 2019.
“Salvamentos, socorros e cuidados diversos em situações trágicas – incêndios, colisões, desabamentos, naufrágios – em que a urgência da decisão do que fazer é parte habitual da atividade, colocam esse trabalhador em um estado permanente de tensão psíquica e lhe exige, em geral, respostas corporais de força e desempenho pouco usuais nas situações cotidianas. Os bombeiros militares trabalham com a incerteza do que lhe será exigido em cada ação que cumprem. O efeito do trabalho, sob essas condições, pode afetar a saúde desse profissional, e cabe aos seus superiores estarem atentos e sempre que achar necessário encaminhá-los ao CAPS ou a um dos NAPS”, explicou o capitão Franco. Os bombeiros que sentirem que precisam de auxílio psicológico também podem procurar espontaneamente o serviço de saúde mental oferecido pela PM.
Todos os policiais militares e bombeiros também são obrigados a fazer um estágio de aperfeiçoamento profissional para atualizar alguns conceitos de como agir na hora das ocorrências. E foi por meio desse trabalho que se viu a necessidade de fazer a atualização da abordagem na tentativa de suicídio. “Nas décadas de 1980 e 1990, o bombeiro tinha como conduta distrair a vítima para evitar que ela se matasse. Com o treinamento, a abordagem se tornou humanizada, levantando em conta o sofrimento da vítima, e praticando a empatia, os bombeiros passaram a ouvi-la, tranquilizá-la para evitar o suicídio, já que cerca de 90% das pessoas que tentam o se matar sofrem de depressão ou outras perturbações mentais”, esclareceu o capitão do Corpo de Bombeiros paulista.
Além disso, a PM também, preocupada com a saúde física e financeira de seus profissionais, disponibilizou uma equipe de nutricionistas, para a orientação sobre a alimentação, e um curso de administração financeira familiar, vislumbrando assim o melhor para a qualidade de vida de seus servidores.
Mudança de pensamento
A percepção de uma boa qualidade de vida expressa-se também em uma boa capacidade para o trabalho, concorda Lia Silvia Kunzler, especialista em Psiquiatria e Psicoterapia e membro da Perícia Oficial em Saúde (SIASS) da Universidade de Brasília (UnB), que também participou do webinar promovido pela ABQV, que foi coordenado por Eduardo Bahia Santiago, diretor de Educação e Conhecimento da entidade. “Auxiliar a priorizar e identificar os trabalhadores que necessitam do apoio dos serviços de saúde ocupacional e direcionar intervenções para melhorias no ambiente ou nas condições de trabalho é fundamental tanto no serviço público quanto privado”, ressaltou.
Para ela, está havendo uma mudança na mentalidade do mundo corporativo, que vem olhando para os colaboradores como pessoas em sua totalidade. “Tão importante quanto o bem-estar físico, a saúde mental merece atenção principalmente no ambiente organizacional. As empresas, talvez pela momento que vivemos de pandemia, têm estado mais atentas a este cenário, mas o estigma ainda é muito grande. É um assunto profundo que precisa de ações efetivas”, destacou.
A proposta de Lia é criar programas que auxiliem os profissionais não somente dentro das instituições, mas que olhe o universo em que eles estão inseridos. O uso de programas com foco na terapia cognitiva, que tem como princípio que o humor e os comportamentos prejudiciais à saúde são o resultado de pensamentos distorcidos e rígidos, é a proposta da psiquiatra, por mostrar que existe mais de uma maneira de ver uma situação e que o ponto de vista de uma pessoa é, antes de tudo, uma questão de escolha,.
Lia há mais de uma década desenvolveu a técnica “Pense saudável e sinta a diferença”, em que aplica os conceitos de promoção da saúde, qualidade de vida, tomada de decisão e terapia cognitiva, utilizando a analogia com as figuras dos abacates cinza e verde. O objetivo é fazer com que as pessoas que a utilizem possam transformar pensamentos, emoções e comportamentos não saudáveis em boas ações para a saúde física, mental, emocional e psíquica, com consequente melhora da qualidade de vida.
A técnica é aplicada de maneira didática. Primeiramente é preciso identificar o problema ou emoção em desequilíbrio. Quando se está angustiado (abacate cinza), os pensamentos (cognições) e comportamentos são distorcidos pelo desequilíbrio emocional. A avaliação da situação é por meio de “lentes distorcidas ou de aumento”, que tornam um problema maior e mais difícil do que realmente é. Para passar mais tempo no “abacate verde”, deve-se analisar pensamentos prejudiciais e construir pensamentos saudáveis.
“A transição de um abacate para outro é um reflexo da saúde mental. Para viver com saúde, não se deve procurar manter-se constantemente no bem, porque é perfeitamente natural que vários momentos a vida e a rotina desequilibrem as emoções. O verdadeiro desafio é pensar saudável e desequilibrar a emoção, voltando ao ‘abacate verde’. O importante é estar atento ao tempo que se gasta em cada um deles e, a partir daí, tomar as decisões”, explicou a psiquiatra.
A determinação de um objetivo pessoal, intransferível e específico facilita a melhoria dos processos. “O propósito deve ser sempre a melhora da qualidade de vida, das relações interpessoais, aprender a lidar com as emoções de forma equilibrada, cuidar da alimentação e do sono e se perguntar: o que posso fazer agora para construir uma vida valiosa? Isso sim é eficaz”, concluiu Lia.