
As consequências do etarismo nas empresas em diferentes dimensões do bem-estar
26 de novembro de 2025A construção de ambientes corporativos verdadeiramente inclusivos passa, necessariamente, pela valorização da neurodiversidade nas empresas. Mas, ainda que haja avanços significativos nas discussões sobre diversidade, a integração de pessoas neurodivergentes continua sendo um desafio, com reflexos importantes tanto para indivíduos quanto para as organizações.
Por isso, vale sempre a pena reforçar por que promover a neurodiversidade nas empresas não é apenas uma questão de responsabilidade social. Essa é uma decisão compatível com uma estratégia inteligente para fortalecer equipes, ampliar a capacidade de inovação e construir ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos.
O que define a neurodiversidade?
A neurodiversidade é um conceito que reconhece e valoriza a diversidade natural do funcionamento do cérebro humano frente a diferentes contextos e realidades. Essa noção ganhou espaço a partir dos anos 90, com o trabalho da socióloga australiana Judy Singer.
Isso reforça como cada indivíduo possui um perfil único de habilidades cognitivas, emocionais e comportamentais, influenciado por fatores fisiológicos, ambientais e culturais.
De todo modo, não existe definição única para o termo. Além disso, ele não tem necessariamente relação com um diagnóstico médico. Porém, na prática, ele abrange uma variedade de condições neurológicas e psiquiátricas. As mais comuns incluem:
- Transtorno do Espectro Autista (TEA), que pode se manifestar por meio de diferenças na comunicação social e padrões específicos de comportamento e interesses;
- Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), caracterizado por dificuldades de concentração, hiperatividade e impulsividade;
- Dislexia e discalculia, que afetam a capacidade de leitura e de lidar com números, respectivamente;
- Quaisquer outras condições capazes de provocar alterações intelectuais, de desenvolvimento ou de aprendizado (como a Síndrome de Down, por exemplo).
Contudo, a adoção da noção de neurodiversidade enfatiza que essas diferenças no funcionamento cerebral não são necessariamente desvios, patologias ou deficiências. Elas são, em essência, mais uma expressão natural da diversidade humana.
Portanto, em vez de focar apenas nas limitações ou desafios que algumas condições neurológicas podem apresentar, é fundamental reconhecer e explorar os potenciais únicos que cada perfil é capaz de oferecer.
Segundo o Censo 2022, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), havia 2,4 milhões de brasileiros dentro do espectro autista. Tal montante equivale a cerca de 1,2% da população e não inclui outros traços de neurodivergência, como o TDAH, por exemplo.
Como as empresas precisam se preparar para promover e incluir neurodivergentes?
Promover ambientes verdadeiramente inclusivos para pessoas neurodivergentes (ou neuroatípicas, como também são chamadas) exige ações práticas que considerem necessidades individuais e objetivos organizacionais, de modo a incluir um número expressivo de profissionais.
Contudo, tal cenário esbarra frequentemente em espaços onde não há treinamentos ou conscientização suficientes para a implementação de práticas e ações relacionadas à neurodiversidade nas empresas.
Por isso, é importante reforçar a necessidade de preparação adequada das organizações. Algumas iniciativas fundamentais dependem de medidas para:
- sensibilizar e capacitar lideranças, para que gestores compreendam a importância da neurodiversidade, reconhecendo e valorizando as contribuições de cada profissional;
- implementar políticas de recrutamento integradoras, revisando processos seletivos para eliminar barreiras desnecessárias e garantir que as avaliações se baseiem exclusivamente nas competências relevantes para cada função;
- promover adaptações no ambiente de trabalho, como a criação de espaços mais silenciosos, ajustes na iluminação e uso de tecnologias assistivas;
- investir em programas de conscientização, realizando campanhas educativas que ajudem a desconstruir estereótipos, preconceitos e julgamentos relacionados à neurodivergência, que muitas vezes se fazem presentes de maneira sutil;
- estabelecer canais de comunicação claros e acessíveis, garantindo que informações sejam transmitidas de formas diversas para atender diferentes necessidades de processamento e compreensão;
- adequar políticas de desenvolvimento e carreira, considerando arranjos flexíveis de trabalho e programas de desenvolvimento contínuo que respeitem diferentes estilos de aprendizagem e aptidões pessoais;
- monitorar continuamente indicadores de inclusão, por meio de métricas claras sobre composição das equipes, taxas de contratação e retenção, além de canais seguros para que colaboradores relatem situações de discriminação ou exclusão.
Leia também: Por que a diversidade geracional nas empresas é um bom negócio?
De que forma essas práticas contribuem para a promoção de ambientes mais acolhedores e produtivos?
De modo similar ao que acontece com outras formas de promoção da diversidade, práticas de inclusão efetivas trazem benefícios significativos tanto no âmbito individual quanto coletivo.
Do ponto de vista dos colaboradores neurodivergentes, a inclusão efetiva promove maior autoestima e confiança. Por consequência, há um aumento da satisfação no trabalho e do sentimento de pertencimento, contribuindo para a preservação da saúde mental, sobretudo ao reduzir o estresse e a discriminação.
Para as organizações, os impactos são igualmente relevantes. A neurodiversidade nas empresas enriquece as equipes, amplia a capacidade de inovação e gera perspectivas únicas e valiosas para a resolução de problemas.
Quando as empresas criam ambientes que valorizam diferenças, elas também se beneficiam com o fortalecimento de uma cultura organizacional saudável e com a melhoria da imagem corporativa. Além disso, a inclusão adequada contribui para a redução do turnover, uma vez que ambientes acolhedores aumentam o comprometimento e a retenção de talentos.
Em resumo, ações voltadas à neurodiversidade nas empresas são indispensáveis não apenas para promover justiça social e respeitar as legislações vigentes, mas para construir ambientes capazes de aproveitar plenamente o potencial humano em cada uma das suas formas.
Entenda agora como o RH estratégico pode fazer parte da transformação de toda empresa, indo além das atribuições específicas desse setor.
Referencias
Neurodiversidade no trabalho: dicas para aplicar a inclusão
https://www.gupy.io/blog/neurodiversidade-no-trabalho
What is neurodiversity?
https://www.health.harvard.edu/blog/what-is-neurodiversity-202111232645
Neurodivergent
https://my.clevelandclinic.org/health/symptoms/23154-neurodivergent
What Is Neurodiversity?
https://www.ticket.com.br/blog/pessoas-e-gestao/neurodiversidade





