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23 de abril de 2023Incentivar e promover bons hábitos alimentares é investimento na saúde dos funcionários e nos resultados da empresa
A alimentação é o recurso mais consistente para potencializar a saúde humana e a sustentabilidade ambiental. Uma alimentação saudável é aquela capaz de fornecer todos os nutrientes de que o organismo necessita para estar bem e equilibrado. E, cada vez mais, a ciência mostra que a nutrição tem um papel fundamental tanto na manutenção da saúde, quanto na prevenção e tratamento de inúmeras doenças.
O Dia Mundial da Saúde e Nutrição, celebrado em 31 de março, é uma oportunidade para refletir sobre como tratamos nosso recurso mais importante: o corpo. A pandemia de Covid-19 provou que, muito além de uma questão estética ou de bem-estar, alimentar-se bem e fazer exercícios são hábitos essenciais para que a saúde esteja sempre em dia.
Para tanto, o alimento precisa ser digerido e absorvido adequadamente para que ele se transforme em nutrientes. E os de origem vegetal são de vital importância para a saúde humana, especialmente devido a sua atividade antioxidante, que promove efeitos positivos quando ingeridos em quantidades adequadas.
A nutrição está estreitamente ligada aos cuidados básicos com a saúde, embora ainda falte educação sobre este tema e maior consciência sobre sua influência nos resultados das organizações.
Uma alimentação equilibrada, consciente, promove a redução considerável no desenvolvimento de,:
- doenças cardiovasculares,
- neurodegenerativas,
- inflamatórias; e
- cânceres.
“A quantidade e qualidade da alimentação determinam o funcionamento adequado do organismo em todos os níveis. Os nutrientes agem em sinergia, sendo que um depende da presença do outro para a sua ação ser efetiva. Portanto, o que pode desequilibrar a alimentação são os excessos e/ou deficiências nutricionais”, explica a nutricionista Rosicler Dennanni Rodriguez, especialista em Alimentação Coletiva, pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional e membro do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).
A especialista afirma que uma dieta com a combinação certa de proteínas, carboidratos, gorduras saudáveis, vitaminas, minerais e compostos bioativos impacta o cérebro, a cognição e o estado emocional, e pode ajudar a melhorar as funções cerebrais, níveis de energia, memória, além de controlar as emoções.
“Em suma, aliada ao exercício físico, sono suficiente e hidratação adequada, a nutrição é fundamental para a saúde e qualidade de vida”, garante Rosicler.
Melhora da capacidade
Ter uma alimentação nutricionalmente equilibrada e saudável interfere na saúde, vitalidade e qualidade de vida, e pode melhorar a capacidade dos trabalhadores em desempenhar suas atividades. A relação entre alimentação saudável e produtividade no trabalho já foi tema de estudos inclusive da Organização Internacional do Trabalho (OIT), atestando que uma alimentação inadequada no ambiente de trabalho pode reduzir até 20% da produtividade e da eficiência dos colaboradores.
Sem nutrição e qualidade de vida adequados, ressalta a nutricionista, a força de trabalho se desgasta mais rapidamente, podendo elevar os índices de:
- acidentes de trabalho;
- absenteísmo;
- insatisfação;
- falta de motivação;
- menor capacidade produtiva;
- desenvolvimento de doenças, como diabetes e obesidade; e
- até mesmo transtornos psicológicos.
“A qualidade de vida do trabalhador, refletida com a melhora do estado de saúde, trará impactos diretos sobre a sustentabilidade da empresa, através da redução nos índices de absenteísmo e de gastos com assistência médica, pois saúde e vitalidade são fatores essenciais para o aumento da produtividade”, destaca a conselheira da ABQV, salientando que incentivar e promover bons hábitos alimentares é um investimento não só na saúde dos funcionários, mas também para os resultados da companhia.
Desafios da nutrição
Rosicler afirma que o ser humano está se alimentando cada vez mais e se nutrindo cada vez menos.
Em 2021, a prevalência do sobrepeso e obesidade voltaram a crescer no Brasil. Os dados do Vigitel Brasil 2021 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) mostraram que 22,4% da população com mais de 18 anos está obesa. O excesso de peso também aumentou, correspondendo a 57,2% da população.
O aumento do excesso de peso, da obesidade e de doenças a eles relacionadas (diabetes, hipertensão etc.) está associado com o consumo muito elevado de:
- alimentos ultraprocessados;
- de alto teor de sal, açúcar e gorduras saturadas e hidrogenadas;
- composição nutricional desbalanceada, com baixo teor de fibras;
- alta necessidade energética, levando a um consumo de calorias maior do que o gasto diário, além de impactarem o meio ambiente.
Segundo estudo de pesquisadores da Universidade de São Paulo e publicado no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, o consumo de alimentos ultraprocessados pode aumentar em 45% o risco de obesidade entre os adolescentes. A pesquisa apontou ainda que uma alimentação com alto consumo desse tipo de produto aumenta em 52% o risco de acúmulo de gordura abdominal e em 63% a chance para gordura visceral, entre os órgãos internos.
“O desafio é mudar a visão da alimentação prazerosa para racional e nutritiva, que atenda às necessidades do organismo e que atue de forma efetiva e preventiva sobre a saúde”, afirma a nutricionista, ressaltando que nenhum alimento é proibido, porém as preferências alimentares favorecem uma repetição na escolha de determinados alimentos, podendo gerar um desequilíbrio na alimentação devido à falta de alguns nutrientes, deixando o corpo debilitado.
O Guia Alimentar da População Brasileira (2014) traz uma regra de ouro: faça dos alimentos frescos (in natura e minimamente processados) a base de sua alimentação. Assim, devemos priorizar verduras, frutas, legumes, cereais integrais, leguminosas etc.; incentivar o consumo de alimentos saudáveis e as práticas saudáveis na rotina diária desde a infância.
Promoção da saúde no ambiente corporativo
O ambiente de trabalho como um local importante para promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas. Muitas organizações oferecem programas de promoção de saúde e de qualidade de vida aos seus empregados com o propósito de promover estilo de vida saudável, prevenir ou gerenciar enfermidades, cooperar com a saúde ocupacional e com a melhoria do clima organizacional.
Para Rosicler, a empresa tem um papel fundamental na promoção e acesso a alimentos e/ou refeições saudáveis, e de ações educativas para estimular e proporcionar mudanças de comportamento alimentar para a formação de novos hábitos, auxiliando o colaborador a fazer escolhas saudáveis.
Existem duas formas essenciais, na visão da especialista, para conduzir a mudança de comportamento alimentar nas organizações:
- criar oportunidades e ambiente, promovendo o acesso às refeições; e
- construir habilidades e conhecimentos: educar.
“A educação nutricional apresenta ao colaborador, de forma clara e expositiva, os ganhos com a adoção do lado racional da alimentação, auxiliando-os nas escolhas de alimentos saudáveis que promovem saúde e segurança alimentar”, explica a conselheira da ABQV.
Outro ponto fundamental é o alinhamento de todo tipo de alimento oferecido no ambiente corporativo, das refeições servidas no restaurante com os demais serviços oferecidos de cafeteria, copas, lanchonetes etc., dando prioridade aos produtos saudáveis. Os alimentos “não saudáveis” também podem ser oferecidos, mas a sugestão é não estarem muito a vista e não serem subsidiados.
Mas para que as ações de promoção de alimentação saudável na empresa sejam efetivas, Rosicler diz que alguns pré-requisitos são necessários para a organização e as lideranças:
- Compreender o significado de “saúde, bem-estar, qualidade de vida e ambiente de trabalho saudável” e se isso é um valor para a organização.
- Estabelecer as razões para implantar uma política e/ou programa de qualidade de vida.
- Compreender a importância da nutrição e da alimentação no contexto de saúde, bem-estar e qualidade de vida.
- Definir o que se espera com um programa de alimentação e nutrição.
- Conhecer/estabelecer o orçamento disponível.
- Definir quais são as prioridades, resultados esperados e como mensurá-los.
- Compreender que o principal foco a ser atingido é a mudança de comportamento, que será possível com educação e promoção e/ou facilidade de acesso aos alimentos/refeições e bebidas saudáveis.
“Esses requisitos precisam ser amplamente analisados e devidamente esclarecidos antes de se iniciar as ações. Feito isso, o programa de alimentação saudável poderá começar a ser delineado, superando alguns mitos, especialmente de que uma comida saudável é uma comida com restrição de alimentos e para fins terapêuticos. Na verdade, a comida saudável pode e dever ser saborosa, prazerosa, preventiva e sustentável”, finaliza a nutricionista.