
O cargo de chief happiness officer veio para ficar?
25 de junho de 2025O mundo corporativo está em constante transformação, com novas tendências emergindo — muitas vezes de forma silenciosa. Isso significa que a nova fase do mercado é marcada por ações que evitam confrontos diretos, mas que ainda assim geram impactos profundos.
Entre elas, destaca-se o quiet cutting, uma prática que, embora pareça inofensiva à primeira vista, pode comprometer seriamente o clima organizacional e a reputação da empresa.
O que é o quiet cutting
Em tradução literal, o termo significa “corte silencioso” ou “dispensa silenciosa”. Trata-se de uma prática em que empresas realocam colaboradores para funções menos desejadas, sem qualquer justificativa clara, com o objetivo velado de forçar um pedido de demissão.
Ao evitar um desligamento formal, a organização se exime de custos trabalhistas e, em alguns contextos, até mantém uma imagem de que tem baixos índices de turnover.
O comportamento não é exatamente uma novidade no mercado, mas, recentemente, ganhou um nome e voltou ao centro do debate corporativo por se alinhar a uma lógica que visa economia e preservação da marca empregadora.
Quiet cutting x Quiet quitting
Embora os termos sejam semelhantes, envolvem dinâmicas diferentes. Enquanto o primeiro é uma ação da empresa para “desgastar” intencionalmente o colaborador, o segundo é uma resposta do funcionário ao ambiente de trabalho.
No quiet quitting, também conhecido como demissão silenciosa, o colaborador reduz voluntariamente seu engajamento, limitando-se ao cumprimento estrito de suas atribuições, sem envolvimento extra, sem horas a mais ou iniciativas voluntárias. Ou seja, ele faz apenas o que é necessário como uma tentativa silenciosa de pedir demissão.
Essa atitude, muitas vezes, nasce do esgotamento, da falta de reconhecimento, da insatisfação e/ou do desequilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Já o quiet cutting é uma ação de cima para baixo, realizada sem diálogos claros ou oportunidades de contribuição e crescimento, para indiretamente desmotivar o trabalhador e encorajá-lo a pedir demissão.
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Como o quiet cutting acontece na prática
De acordo com a Central de Sindicatos Brasileiros, diversas estratégias podem compor a prática do quiet cutting, como:
- transferência para áreas sem relação com as competências do colaborador;
- redução de responsabilidades ou exclusão de projetos estratégicos;
- realocação frequente para diferentes setores, sem justificativa clara;
- atribuição de tarefas desmotivadoras, repetitivas ou sem propósito;
- recusa contínua de promoções e reajustes salariais;
- ausência de treinamento após mudança de função;
- sobrecarga proposital (dentro de um limite que não abra brechas para ações judiciais).
No Brasil, as leis não permitem um rebaixamento de cargo ou salário, mas isso pode ocorrer por meio de movimentações não documentadas. Ou seja, mantem-se o mesmo cargo no papel, alterando significativamente as condições de trabalho.
Por que o quiet cutting é um risco para as empresas?
Ainda que adotado como estratégia para evitar demissões diretas, o corte silencioso pode ter efeitos colaterais significativos. Um estudo de 2023 da Zetwerk, publicado na revista Forbes, com 1.015 empresários e funcionários de diversos setores mostrou que:
- 1 em cada 3 já vivenciou ou presenciou um corte silencioso;
- 50% se sentiram traídos pela prática;
- 30% deixaram avaliações negativas sobre a empresa após a saída.
Além disso, 56% afirmaram que preferiam a demissão direta, colocando em xeque a transparência e credibilidade da empresa.
De forma geral, esses dados revelam quatro grandes riscos para as organizações que decidem seguir por esse caminho:
- comprometimento da moral com a equipe: funcionários percebem o que está acontecendo — mesmo quando não são os alvos diretos. Isso gera insegurança e a sensação de que qualquer um pode ser o próximo;
- cultura organizacional fragilizada: sem feedbacks honestos ou comunicação clara, colaboradores perdem a confiança, a motivação e a perspectiva de crescimento;
- danos à reputação da marca: profissionais insatisfeitos tendem a compartilhar suas experiências em redes sociais ou sites de avaliação, o que prejudica a marca no mercado e reduz o interesse de novos talentos;
- falta de profissionalismo nas relações: evitar demissões por receio de conflitos ou por economia de recursos indica falta de preparo e de responsabilidade por parte das lideranças e da gestão de pessoas.
E mais: mesmo que a estratégia traga uma ideia de economia nos custos de rescisão, ela impacta no desempenho e produtividade, podendo até gerar mais rotatividade, o que causa novos custos, por vezes até mais altos.
Caminhos para desligamentos mais transparentes e éticos
Diante dos riscos envolvidos, torna-se essencial repensar estratégias de desligamento. Algumas ações podem ajudar nesse processo:
- avaliações constantes: fornecer feedback regularmente, alinhar expectativas e criar planos de melhoria de desempenho evita surpresas e oferece chances reais de evolução;
- requalificação e desenvolvimento de competências: antes de considerar uma mudança de função, oferecer treinamento pode ser uma solução mais benéfica para ambos os lados;
- encerramentos respeitosos: quando o desligamento for necessário, conduzir o processo com transparência e empatia, reconhecendo suas contribuições e oferecendo suporte e referências durante a transição.
O quiet cutting pode até parecer uma alternativa estratégica para resolver situações delicadas, mas seus efeitos negativos sobre o ambiente e a reputação da empresa são evidentes e duradouros.
Dessa forma, a transparência nas relações de trabalho, a comunicação honesta e o respeito aos colaboradores seguem sendo pilares de uma cultura organizacional saudável e sustentável que precisam estar sempre no centro das decisões, mesmo nos momentos mais desafiadores.
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Referências
The ‘Quiet Cutting’ Trend Is A Controversial Leadership Strategy, New Study Shows
Quiet Cutting vs. Quiet Quitting: What’s Really Going on at Work?
https://www.lpcentre.com/articles/quiet-cutting-versus-quiet-quitting
https://www.zetwerk.com/quiet-cutting-in-the-workplace/[MB1]